Recife

Igreja Matriz de Santo Antônio

Acesse Igrejas on 09/06/2019

Igreja Matriz de Santo Antônio

Igreja localizada a frente da praça da Independência, popularmente chamada de praça do Diário, tem seu destaque na paisagem local, e foi recentemente aberta após reforma.

A fachada da igreja é coroada por um frontão vazio por detrás e enquadrado por duas torres altas com coberturas bulbosas de vários andares e quatro pináculos, decorada com motivos esculturais em arenito (colchete, volutas, aspeados, concheados). No centro do frontão está colocado um grande hostensório radiante, também em arenito, e que simboliza o Santíssimo Sacramento da Eucaristia que deu nome à Matriz.

Este frontispício conserva ainda a primitiva aparência apesar de algumas modificações que nele houve (substituição das rótulas das janelas, dos três óculos do corpo central e das duas torres, por caixilhos envidraçados; substituição das varandas de pau por grades de ferro; acréscimo do frontão).

O frontispício é muito elegante, possui uma altura que é quase uma vez e meia a sua largura. Dividido verticalmente pelos cunhais das duas torres, possui uma cornija separando o corpo principal da base do frontão; cornija que contornando superiormente os três óculos do corpo central, aparece como uma versão mais moderna do encurvamento da cimalha ocorrido na Igreja do Convento de São Bento de Olinda (comum a partir de 1760), com a descida dos citados óculos para o corpo do frontispício, alteamento do frontão decorado com volutas esculpidas em arenito.

As torres estão divididas horizontalmente por cornijas em 3 seções, tendo as intermediárias, situadas logo abaixo dos vãos sineiros, óculos hexagonais de lados arqueados e bordeados por cordão entrançado, ao jeito manuelino, o que constitui uma excentricidade numa fachada barroca.

As restantes fachadas viradas para as ruas Nova e Pedro Ivo não mereceram referência especial. São todas rematadas por platibandas.

Anexo ao templo, do lado da Epístola, encontra-se a Casa Paroquial, com a fachada lateral voltada para a rua Matias de Albuquerque e que foi construída no século XIX em estilo neoclássico.

A planta da igreja é clássica, tendo nave com subcoro, capela-mor, corredores laterais sem transepto, duas sacristias (a do Clérigos e dos Irmãos) e num segundo piso, coro, galerias com tribunas, púlpitos, dois consistórios e o camarim do trono da capela-mor. Podemos dizer que se seguiu aqui a consepção arquitetônica na qual as capelas laterais são substituídas pela nave única, larga, ladeada por corredores, com altares laterais, tendo por fundo retábulos de talha pintada de branco e dourada, alojados nas espessuras das paredes.

No livro 1 de Receita e Despeza da Irmandade, encontra-se referência a vários pagamentos de cantarias, feitos em 1807, a José Rodrigues da Silva. Segundo Robert Smith (vide artigo publicado no anuário do Museu Imperial, pág. 164), a julgar por estas indicações é licito considerar-se possível que, entre 1807 e 1808, Tomas Teles e Antonio Rodrigues da Silva talharam e instalaram os grandes portais da Igreja de Santo Antônio, cuja pedra eles mesmos haviam fornecido. A composição sugere uma espécie de barroco rústico.

As estruturas dos portais são de linhas relativamente retas e de apainelamento inteiriço ao gosto da escola pernambucana do século XVIII. São encimados por volutas vigorosas mas pouco elegantes, ladeando plumas de concepção fantasiosa e folhas estilizadas. As formas dos vasos acima da entrada central constituem uma reminiscência dos desenhos similares empregados no Brasil no fim do século XIX e começo do século XVIII. O projeto destes portais, elaborado no Brasil, presumivelmente na primeira metade do século XIX introduzido no frontão e nas vigas dos portais e portas, dando-lhes uma exuberância que os tornam muito apropriados para a vigorosa fachada da igreja.

Uma característica rara desta Igreja é possuir 3 galerias sobrepostas, sendo as superiores servidas por balcões sobre a nave. Este fato deve-se possivelmente à necessidade de permitir que um maior número de fiéis pudesse assistir aos atos de culto. Há soluções similares na Igreja de Nossa Senhora da Madre de Deus, no Recife, em que a terceira galeria foi substituída por um varandim corrido, servindo também a segunda fiada de balcões da nave; em São Francisco, do Pará; na Misericórdia e Sé de Salvador, Bahia, etc.

Interiores

Pelos dados colhidos nos livros da Irmandade (Livro II de Termos) somos levados a concluir que o retábulo do altar-mor deve ser do século XVIII, pois em 1765 estavam acabadas as obras da Capela-mor e, em 1790 ficou terminada a primeira fase dos trabalhos do templo. Corrobora esta informação uma deliberação da Irmandade datada de 16 de setembro de 1841, em que a Mesa decidiu realizar reparos nos altares existentes, forro da Capela-mor e do corpo da Igreja, tribunas, púlpitos, coro e paredes, frente externa da Igreja, enfim, todas as reformas precisas.

Posteriormente determinou-se a mudança das tribunas do meio do corpo da Igreja para mais perto dos altares colaterais. Os púlpitos foram deslocados para debaixo das tribunas e colocaram-se dois novos altares na nave. Estes trabalhos só devem, porém, ter sido realizados em 1842. F.A. Pereira da Costa, esclarece-nos, nos Anais Pernambucanos, vol II, pág. 110, que: do aformoseamento do Templo, empreendendo reformas radicais, de sorte que, à exceção das obras da belíssima perspectiva da capela-mor, todas as demais foram posteriormente construídas no período de 1842 a 1846, e com as quais despenderam 70.000 reis.

O forro da nave do templo, feito ao jeito da segunda metade do século XVIII, foi descoberto em 1981, durante uma obra executada pelo SPHAN, sob a direção do Sr. José Ferrão Castelo Branco; que realizou a decapagem de três pinturas à óleo, brancas, que encobriam totalmente o forro original.

A pintura descoberta revela a concepção ilusionista barroca (balaústre, meninos, vasos com florões, colunas, platibandas, em perspectiva) procurando dar a impressão de que o teto se abre, da cimalha real para cima, aparecendo no centro uma cartela suspensa por quatro anjos, numa alegoria à Eucaristia representada pelo cálice e hóstia, rodeados de anjos entre meninos.

Na capela-mor sobressai um retábulo (século XVIII), branco e dourado, tendo dois pares de colunas, duas torsas, dos lados do camarim, e duas com caneluras rematando lateralmente o entalhamento; colunas todas apoiadas num envasamento geral ao qual se encosta a mesa do altar e o sacrário.

Entre essas colunas estão colocadas banquetas com as imagens de Santo Antônio (lado do Evangelho) e São Sebastião (lado da Epístola). A tábua para essas banquetas foi paga a Manuel Gonzaga Carap (sic), em abril de 1810. No mesmo ano, tais banquetas foram pintadas e douradas pelo irmão Manuel de Jesus Pinto.

Na base do retábulo foi enxertado, infelizmente, uma mesa de altar recente, feita de mármores de várias cores e com um frontal cheio de símbolos, dividido em três painéis: no centro está colocada a custódia recortada e ladeada por dois anjos; nas laterais aparece o cordeiro místico, em relevo. À parte este pormenor, toda a talha apresenta certa unidade e ascendência vertical que se pode definir pela sobreposição, ao sacrário, de maquineta envidraçada do Espírito Santo e do trono, em degraus, rematado por um baldaquino.

Um friso rendilhado e dourado circunda a boca do camarim. Superiormente, toda a decoração é feita à base de molduras “quebradas” formando capitéis e arquitraves em que o dourado sobressai sobre o branco dos fundos.

Espalhados pelas superfícies, na base das colunas, no fecho dos arcos, estão fixados pequenos anjos muito perfeitos, policromos, com asas douradas e bem entalhados.

Este retábulo liga-se ao forro do teto da Capela-mor (post. 1842) que é formado por oito triângulos esféricos que se unem num medalhão com a figura do Pai Eterno segurando um globo.

A ambiência é requintada, exuberante de brancos e dourados, e representa a transição do rococó para o estilo Luís XVI. Tal exuberância diminui nos restantes retábulos colaterais, tornando-se serena nos altares laterais da nave em que aparecem os remates com cornijas retas.

Podemos dizer que a decoração a ouro e branco, tão distinta, substituiu a moda anterior da douração maciça do século XVIII, de que é um exemplo o altar-mor da Igreja do Convento de São Bento, em Olinda.

No fim do setecentos, muitos interiores no Recife e na Bahia foram reformados ao gosto do estilo francês de Luís XVI, aparecendo as urnas e os desenhos clássicos, a branco e ouro colorido. Tais formas são mais sóbrias que as de 1750 existentes no templo da Conceição dos Militares com as suas movimentadas cornijas e grinaldas. A Capela Dourada dá-nos um exemplo da pura talha nacional portuguesa, plena de anjos e pássaros, de colunas cobertas de folhas e cachos de uvas.

Aquele novo gosto do século XIX deu às ambiências dos templos certo ar Mariano e leve, e foi do agrado da Irmandade da Matriz de Santo Antônio, que encarregou Manuel de Jesus Pinto (que já dourara a Igreja) de decorar o consistório, também a ouro e branco, e de executar ali o painel do Espírito Santo, o qual ainda se encontra servindo de fundo ao altar existente.

É com o pintor Manuel que em 1794 se fez o ajuste da pintura do forro do corredor da Igreja da parte norte, que deveria ficar a branco todo o teto e a cornija fingida de pedra azul e encarnado, oito sanefas douradas em todos os altos e os fundos de focos (sic) com os da Igreja, tudo com ouro de Lx., o melhor de quatro janelas e duas portas oleadas a verde com duas demãos, três portadas das tribunas com toda a largura que tiver fingidas de pedra azul e óleo com avivado fino; assim também com o mesmo fingido as duas portadas das duas portas; dar cinzento (sic) com duas demãos por detrás de todas as portas e janellas; ultimamente dourar bornido os dois redondos de toda a cornija. Os remates das janelas com pintura que finja pedra, com seus veios dourados.

O verde tomara agora o lugar do azul, tão em moda até a metade do século XVIII, para o exterior das portas e janelas, a par com o mais suave tom de cinzento para a parte interna.

Entre os artífices que trabalharam na Igreja deve-se mencionar o distinto entalhador, Mestre Filipe Alexandre da Silva, que executou, entre outros, os tocheiros, as estantes, os escabelos, as sanefas, as tribunas e as banquetas de Santo Antônio e São Sebastião do altar-mor, os quais se podem incluir entre as mais belas da última fase do Rococó do Recife.

No sub-coro, do lado da epístola, está um nicho com Nossa Senhora da Piedade, uma das imagens mais belas que conhecemos. Rematando esse nicho e enriquecendo-o encontra-se uma magnífica sanefa em branco e ouro, de vigoroso desenho, e que representa um dos elementos mais decorativos da Igreja e constitui um exemplar da talha recifense.

Os retábulos descritos, o teto perspectivado, o coro, os púlpitos, os balcões do segundo piso, as portas com as sanefas brancas e douradas, tudo se dispõe para nos dar a impressão de estarmos num ambiente do fim da época barroca.

Os mosaicos da nave, da capela-mor da Igreja da Matriz de Santo Antônio são cerâmicas coloridas, formando desenhos geométricos do tipo embrechado ou decorativo, com estrelas.

Da pesquisa feita nos livros da Irmandade descobriu-se a tomada de decisão para compra desses mosaicos na Inglaterra.

Damos seguidamente a transcrição das Actas da Mesa Regedora, na parte que interessa ao assunto em referência: Na acta da 3ª sessão da Mesa Regedora da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Matriz de Santo Antônio, elaborado em 11 de setembro de 1869, diz-se o seguinte ao tratar do expediente:

Um offício da Secretaria da Presidência scientificando a Mesa Regedora que por aviso do Ministério da Fazenda, expedido em 17/08 próximo passado foi indeferido o requerimento desta Irmandade em que pede a isenção dos direitos para os tijolos de mosáicos importados da Inglaterra; ficou a Mesa scientificada. E na ata da 5ª sessão, de 27 de setembro de 1868, já tinham sido apresentadas à Mesa pelo Irmão Juiz as amostras do mosaico mandado vir para a obra da Igreja e, depois de falarem diversos irmãos da Mesa foi deliberado mandar vir da Europa a encomenda precisa a fim de se fazer a obra. Está, pois, identificado como da 2ª metade do século XIX o pavimento de mosaico da Igreja.

Para finalizar, queremos nos referir às portas de madeira das entradas principais, com as suas almofadas salientes, bem entalhadas, embora mais sóbrias que as de outras Igrejas da cidade.

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