Convento e Basílica Nossa Senhora do Carmo
Na Avenida Dantas Barreto, a Basílica e Convento Nossa Senhora do Carmo, tem destaque arquitetônico na paisagem da cidade.
Convento e Igreja (Basílica) do Carmo, do Recife
1662-63 ? / 1667 ?
Não se conhece a doação feita pela Câmara de Olinda aos Carmelitas Observantes da vila, para que fundassem Hospício (pequena comunidade de religiosos), no antigo Paço da Boa Vista, em Sto. Antônio do Recife. Em documentação carmelita a fundação desse Hospício é atribuída a Fr. Francisco Vidal de Negreiros, filho do General André Vidal de Negreiros.
As datas supostas (acima) baseiam-se em petições dos próprios Carmelitas. Em cerca de 1674, o Conselho Ultramarino despachava petição dos Carmelitas, onde eles diziam que passa de sete anos que são moradores daquele lugar onde se situarão te (sic) acharem outro para melhorarem de casa…
Nessa afirmação podemos supor que houvessem se instalado no Recife em 1667, ano em o qual André Vidal de Negreiros governou Pernambuco. Cerca de 1686-87, o Comissário da Reforma Fr. João de S. José, afirma que os Carmelitas tinham mais de 24 anos de assistência religiosa naquele Hospício. A acreditarmos nessa afirmação, os Carmelitas teriam ocupado o Paço da Boa Vista (Carmo Velho), desde 1662 ou 1663, período que inscreve-se naquele do Governo de Francisco de Brito Freire.
1672 / 1674 / 1675
Registram-se nesse período vários pedidos dos Carmelitas para deixarem o Hospício da Boa Vista, alegando distância, isolamento e insalubridade. Avisos da Câmara de Olinda à Coroa portuguesa, voltam sob a forma de negativas ao interesse dos Carmelitas.
1677 – 1679 / 1680 – 1681
Os Carmelitas do Hospício da Boa Vista iniciam nesse período a formação de patrimônio em terras na povoação (em torno do Hospício e em direção ao centro da povoação). Persistiam, assim, no objetivo de mudar o seu Hospício do lugar em que estavam e que não atendia aos seus interesses e funções religiosas (1677-79).
Para a pretendida mudança voltam os Carmelitas a requerer licença ao príncipe-regente D. Pedro, para que pudessem ter Hospício dentro da povoação de Santo Antônio, como se havia concedido as outras religiões…, isto é, aos Franciscanos, Jesuítas e Capuchinhos (1680 – 81).
1684 – 1685
Em 1684 o Hospício do Carmo do Recife, ainda na posse dos Carmelitas Observantes, foi descrito por Fr. Manuel da Assunção como um edifício arruinado e exíguo. Os Carmelitas Observantes sem estarem na posse de licença-régia, ou, apenas com a permissão da Câmara de Olinda para reedificar aquele arruinado Hospício do Recife, ao que parece, já tinham projetado a construção de um novo convento. Pois em agosto de 1685 os Carmelitas faziam escritura de padroado com o Capitão Diogo Cavalcante de Vasconcelos, onde declarava-se que querendo os ditos Religiosos fazer huma Igreja nova e convento neste sítio da Boa Vista se havia obrigado elle outorgante com o dito Vigário e mais Religiozos em mandar fazer a Capella-mór da dita Igreja a sua custa e despeza, na qual ele e seus herdeiros teriam sepultura.
1685 – 1686 – 1687
No final de 1685, após a escritura de padroado que financiava a construção da capela-mor da Igreja do Convento que os Carmelitas pretendiam construir, chegava da Coroa ordem contrária. Em carta ao governador da capitania, D. Pedro II ordenava …não consentisse edificar conventos de novo sem licença sua… O que poderá ter embargado as obras iniciais desde fins de 1685 até o princípio de 1687 (?).
Entretanto, em 1686 – 1687, chegaram ao Conselho Ultramarino e ao rei, informações/versões sobre a obra do Convento embargada. Segundo o governador …os Carmelitas não fundavam convento novo, e que somente reedificavam um hospício por estar arruinado. Segundo Fr. João de S. José, Comissário da Reforma, que logo assumiria o Hospício do Recife, a notificação ao vigário daquele convento para que …não fosse a dita obra por diante, era equivocada e não contrariava ordens régias. Pois o suplicante não funda de novo Convento algum e somente reedificava aquela Casa e hospício que há mais de 24 anos que está com Igreja pública….; solicitando então …que se levantasse o embargo das obras.
Pedro II decide-se pelo apoio à instituição da Reforma Turônica no Hospício do Recife, dos quais religiosos esperava saíssem missionários para atuar na conversão dos indígenas, sob a administração da Junta das Missões daquele bispado (Pernambuco). Assim, por alvará de março de 1687 ele dirá: hei por bem e me apraz conceder licença ao dito Fr. João de S. José para que os ditos Religiosos de N. Sra. do Carmo possão continuar a obra na forma que a tem começada…
1687 – 1696
Garantidos pelo patrocínio da licença-régia para continuar as obras do Convento (1687) elas seguirão até 1696 quando chegaram ao transepto da Igreja. Nesse ano da constituição da Ordem Terceira do Carmo, seus Irmãos receberam como doação …a capela que está começada com seus alicerces e parede da parte do Evangelho a primeira vindo da Capela-mór para o largo da Igreja…. Receberam ainda os Terceiros Carmelitas, para suas instalações …o corredor que é da parte da Epistola vindo da Sacristia para a capela-mor…, o qual lhe serviria de Consistório e de local para sepulturas de irmãos. Pelo texto de escritura de doação é possível supormos que a capela-mor já estivesse com sua arquitetura concluída, inclusive, seu arco-cruzeiro. Sobre aquela capela começada, doada aos Terceiros Carmelitas, Fr. André Prat afirma que já estava concluída naquele mesmo ano de 1696, e futuramente seria consagrada ao Santíssimo Sacramento. Ainda segundo esse autor a capela fronteira já teria sido começada em 1696, sendo a futura Capela do Bom Jesus dos Passos.
1687 – 1701
Teria sido desde 1687 até 1701, período de catorze anos, a época da edificação da ala norte do Convento do Carmo?
Após a licença-régia de 1687 autorizando a construção iniciada é possível que os Carmelitas tratassem de avançar com a construção do seu Convento. Supomos que sua construção tenha começado pela ala norte (cozinha, refeitório, capela privativa e dormitório).
No estudo de José Antônio Gonçalves de Mello sobre Antônio Fernandes de Matos (mestre-pedreiro e contratador de obras públicas, no Recife dos Mascates), em seu Testamento de 1701, há referências ao Convento do Carmo: Declaro que os Padres do Carmo deste Areçiffe me deram coatrosentos mil réis em dinheiro de que lhes dey hum recibo para lhos fazer em obra no seu convento, sendo cazo que Deos faça alguma couza de mim meus testamenteiros lhes paguem e lhes não descontem nada do que no seu dormitório tenho mandado fazer.
Em 1701, na ocasião da demanda em torno dos bens legados por Antônio Fernandes de Matos, à Ordem Terceira de São Francisco do Recife, recordava um depoente …que durante todo o tempo da doença que o vitimou, esteve ele sempre lúcido e levando-se-lhe de visitação huma imagem de Nossa Senhora do Carmo disse o Testador e instou que se Nossa Senhora do Carmo lhe desse saúde e o aliviasse daquella doença prometia acabar a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, cujo dormitório havia poucos dias tinha mandado principiar.
1690 / 1703
Celebrado em 1685 o padroado da Capela-Mor da Igreja do Carmo, só no período acima referido foi saldada a dívida contraída. Em 1690, D. Catarina Vidal de Negreiros, testamenteira de Diogo Cavalcanti de Vasconcelos prometia executar a vontade do padroeiro, no sentido de transferir bens aos Carmelitas para …mandar fazer a capela-mor da igreja, ou acabá-la… A quantia financeira que fora deixada no testamento aos Carmelitas, seria paga em quinhentas arrobas de açúcar branco, postas no Recife, a partir de 1690. Esse compromisso não pode ser cumprido por D. Catarina, viúva e testamenteira. Afinal, hipotecou-se o Engenho Jacaré, de sua propriedade, aos Carmelitas, o qual por morte dela foi transferido à posse dos Religiosos. E assim só em 1703 foram depositados na capela-mor da Igreja do Carmo os ossos do Cap. Diogo Cavalcanti de Vasconcelos.
1708 – 1716
Em 1708 o Capitão João de Nobalhas e Urrea, fez o seu testamento legando bens à Ordem do Carmo: Declaro que os meus testamenteiros, do melhor da minha fazenda entreguem ao Prior da Reforma de N. S. do Carmo do Recife, seis mil cruzados; para que corra por sua conta mandar fazer, uma capella na egreja que estão fazendo; a qual será de S. João Baptista e N. Sra. da Conceição, com um carneiro e todos os mais paramentos necessários; feita a dita capella, se transladarão os meus ossos para o carneiro della; e nesse dia, me farão os Religiosos um officio de cantochão e dirão todos os Religiosos do dito convento, que se acharem presentes, missa pela minha alma. A certidão do testamento com que faleceu o doador é de 1716.
1710
Segundo Pereira da Costa, os Irmãos Terceiros do Carmo, do Recife, que ocupavam na Igreja conventual a Capela do Santíssimo Sacramento, em 16 de outubro de 1710 mediante as competentes licenças foi a Ordem solenemente trasladada para a sua Igreja, na qual continuou o exercício de suas funções.
1711
Nesse ano em motim que ocorrera na Guerra dos Mascates, conflito que opôs Olinda X Recife (vila desde 1709), há referência a amotinados que se recolheram ao dormitório novo do Convento do Carmo, costume usual nessas situações, na época colonial. Qual seria esse dormitório novo? Supomos poder considerar seja esse dormitório o da ala leste, cuja fachada integra-se na Igreja. Seria esse Dormitório novo aquele referido por Antônio Fernandes de Matos no seu testamento em 1701?
No seu testamento ele declarava haver recebido dos Carmelitas quatrocentos mil reis, para execução de obras no seu convento; pedia, então, aos testamenteiros, que lhes paguem e lhes não descontem nada do que no seu dormitório tenho mandado fazer. Noutra ocasião, ainda em 1701, recordou-se a visita da imagem de N. S. do Carmo que recebeu ao tempo da doença que o vitimou. Nessa ocasião, pedindo saúde e alívio da doença, prometia acabar a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, cujo dormitório havia poucos dias tinha mandado principiar.
1722
O Santuário Mariano, de Fr. Agostinho de Santa Maria, editou-se em Lisboa, com notícias em torno a 1720 / 1722.
As imagens célebres e milagrosas de Nossa Senhora, em Pernambuco, estão no Livro Segundo do Tomo nono (Lisboa, 1722). Quanto às imagens das igrejas da Vila do Recife nota-se a ausência da Igreja do Convento do Carmo. Concluímos que a não citação da Igreja do Convento do Carmo deva-se, talvez, ao inacabado de sua construção, ou, ainda, a ausência ali de devoções marianas célebres e miraculosas, como as que foram referidas em Pernambuco naquele livro.
1729-1730 (?)
Legado da fazenda Cana Brava, Vila do Icó, Ceará, que pertencera ao Cap. Manoel Ferreira de Carvalho (falecido em 1729). No Livro de Tombo do Convento do Carmo há referências sobre pedidos de certidões do Teor da verba do legado de um sítio de gado no sertão, que deixou para as obras da Igreja deste convento do Recife. Ou a transcrição do testamento (sem data) de Manoel Ferreira de Carvalho, onde diz: A qual fazenda e terras deixou aos Religiosos da Reforma deste Recife, para que elles as possão haver a si, de quem as possuir, que serão para ajuda das obras do seo convento.
Esclarece o Tombo que desse legado Tomarão posse das ditas terras, ou fazendas, o Prior deste Convento Fr. Felipe da Madre de Deus, no anno de 1744.
1729-1730
Requerimento de Fr.Pascoal de Sta. Teresa, procurador da Vigararia da Reforma de N. Sra. do Carmo, em Pernambuco. A petição fora vista no Conselho Ultramarino (Lisboa) e encaminhada para parecer régio.
Fr. Pascoal informa sobre o estado da construção do Convento naquela altura, salientando que a obra do Dormitório estava concluída e fora despeza coberta por várias esmollas com que concorrerão os fiéis para acomodação dos Religiosos. E na medida em que …prezentemente se não acha ainda acabada no que respeita a Igreja por falta de cabedal, isto é, de bens materiais ou financeiros, pedia …Mandar que se lhes dê hua ajuda de custo para poderem continuar a obra da dita Igreja…
1734-1735-1736
Nova petição do procurador Fr. Pascoal de Sta. Teresa, dirigindo-se ao Conselho Ultramarino e ao rei. Considerando a proteção régia. (D.João V, 1716) dispensada à fundação daquele Convento do Carmo da Reforma, pedia …lhe faça mercê mandar dar huma ajuda de custo para se continuar a obra da Igreja do seo Convento na villa de Sto. Antonio do Recife…
1738
Nesse ano parece haver ocorrido a doação (escritura inicial de 1724) que o Capitão Mor Manoel de Moura Rolim fez do seu Engenho Salgado (Serinhaém, Pernambuco). A doação fora entre vivos para o tempo de sua morte de todo o sobredito engenho chamado o Salgado por invocação de Nossa Snra. de Nazareth e S. João Baptista…, o qual engenho por sua morte seria doado ao Convento do Carmo do Recife …para paramento e ornato da Capella do SS. Sacramento que se acha no dito Convento, com obrigação daqueles religiosos …se seguirem obrigados a mandarem dizer perpetuamente enquanto houver mundo duas missas quotidianas no mesmo altar do SS. Sacramento, hua por alma delle outorgante doador, e outra por sua molher D.Ursula Carneiro da Cunha,…
1741-1742
Nesse período, na Capela da Ordem Terceira de S. Francisco (Recife), montava-se nova grade de balaústres torneados, naquele arco entre a Capela Dourada e a Igreja conventual dos Franciscanos.
A obra da grade (em jacarandá) era feita pelo mestre torneiro José da Costa, e pode ser estimada que sua estrutura teria cerca de 80 balaústres, mais suas cornijas. Entre as despesas pagas ocorre aquela onde Dispendeuce com hum preto do Carmo de fazer 6 balaustres – 1$600.
Teria havido no Convento do Carmo do Recife, oficina de tornearia onde aquele preto do Carmo – oficial torneiro de ganho?- fizera os 6 balaústres para a grade da Capela Dourada?
1742-1743
Período de envio e exame de novo requerimento do procurador do Carmo da Reforma, Fr. Pascoal de Sta. Teresa. Nele, informava ao Conselho Ultramarino e ao Rei D.João V, que das esmollas daqueles povos somente poderão acabar hum lanço de dormitório, [e] algumas oficinas precizas,… Lembrava-lhes, então, que o dito convento não tem recebido ajuda de custo alguma para as ditas obras e para os dormitórios que se hão de fazer… [Seria a ala oeste que não foi construída?]. Afirmava o procurador que …estando de prezente a dita Igreja acabada para nella se celebrarem os Officios Divinos …necessitava de vários paramentos assim para a sachristia, de alguns ornamentos… Como também para o ornato da mesma Igreja, e Coro pois se achava sem um órgão, e a torre sem sino grande (…). O pedido do procurador do Carmo era para …fazer-lhe Esmolla de hua ajuda de custo para se fazerem os paramentos da Igreja, ornamentos para as festividades, hum órgão, e sino grande….
A perda/extravio da documentação conventual relativa ao período colonial, impede verificar no que os Carmelitas foram atendidos nas suas petições a D.João V, de Portugal. Pois, D.João V, enriquecido com o ouro extraído das minas do Brasil, pôde ser grande comprador de obras de arte religiosa: pintura, gravura, têxteis e metais. Objetos de função devocional e litúrgica que destinava às instituições religiosas sob o seu padroado, como era o Convento do Carmo, do Recife.
1752
Ano da escritura de composição amigável encerrando o litígio havido entre a Ordem Terceira do Carmo e o Convento do Carmo. A questão era em torno da posse da Capela do lado do Evangelho que até aquele ano permanecera como doação na posse dos Irmãos Terceiros. Tendo sido aquela Ordem Terceira condenada a adornar a dita capela, desiste da Capela, devolvendo-a aos Carmelitas, mediante indenização. Assim, entre as duas instituições fez-se …huma amigável compozição em tal forma que reduzida a tal pensão do adorno a pena pecuniária ficasse esta Venerável Ordem Terceira por huma vez izempta para sempre do dito ornar, e os ditos Reverendos Religiosos inteiramente Senhores da dita Capella para determinarem, e adornarem como milhor lhes parecer, e a dita Venerável Ordem Terceira livre de toda obrigação que lhe competia, …
Nessa escritura de 1752, pode-se presumir que termos como adornar, adorno e adornarem, estivessem referidos à integração da ornamentação do espaço da capela em talha dourada e policromada. A responsabilidade dos Terceiros Carmelitas em adornarem a capela sob sua posse, não fora cumprida até 1752; daí sua indenização e transferência da capela aos religiosos do Carmo, para a adornarem como melhor lhes parecer.
Essa questão deve ser considerada na datação e identificação estilística do retábulo e forro (atualmente em restauro) da Capela do SS. Sacramento / Coração de Jesus.
1754 / 1767
Referências sobre a cronologia das obras da fachada da Igreja do Convento do Carmo são raras, marcando um período de cerca de 25 anos. Deve-se recuar à petição (referida) de Fr. Pascoal de Sta. Teresa, em 1742-43. Nesse documento, ele refere-se ao coro que se achava sem um órgão, e a torre sem um sino grande, considerando que a Igreja estava acabada para celebração dos ofícios divinos. Pelas suas informações é possível supormos que o corpo da Igreja houvesse chegado ao plano da fachada, certamente inconclusa em altura (parte superior da torre e frontão?) bem como na obra de ornamentação em cantaria aparelhada e esculpida em arenito.
Posteriormente, em 1754 sagrou-se e colocou-se na torre um sino;cerimônia assistida pelo governador José Correia de Sá e pelo bispo de Olinda D. Francisco Xavier Aranha. É possível que as obras da grandiosa fachada só estivessem concluídas como arquitetura em 1767. Este foi o ano inscrito no frontão (parte superior da fachada), em cartela abaixo do nicho de N. Sra. do Carmo, tudo sublinhado pelo nível plano do entablamento de contracurvas.
1780
Em 1780 os Terceiros Carmelitas do Recife decidem que sua Procissão do Triunfo naquela Quaresma deveria sair da própria Capela da Ordem – Sta. Teresa. Desde pelo menos meados do século XVIII, a Procissão do Triunfo saía da Igreja do Carmo, a qual nesse ano julgava-se estar impedida. Nesse sentido, o prior dos Terceiros fora rogar ao prior do Convento do Carmo …que vista a indigência, em que se achava a sua Igreja por causa dos andaimes, que nella estavão armados para a obra, que nella se fazia, tínhamos determinado fazer a nossa procissão do Triunfo da Paixão de Cristo…, saindo da nossa própria Igreja. É possível, talvez, associar os andaimes armados para obras na Igreja do Carmo, à realização da pintura do forro da sua nave e do subcoro, ambos pintados em perspectiva arquitetônica, e iconografia carmelitana.
1785-1797
Em 1785, estava a Capela do Bom Jesus dos Passos, com sua talha principiada a dourar embora sem se poder concluir, avaliava em 1797 o prior conventual, Fr. Filipe da Conceição. Fora, então, que apareceu, chegado de fora do Convento do Carmo, do Recife, o Pe. Manuel Marques do Monte Carmelo, religioso carmelita. Ele encarregou-se de mandar dourar o dito altar a sua custa por sua devoção. Pedindo em troca apenas que lhe concedessem…sepultura na parede da dita Capela para só êle por sua morte se enterrar ficando dentro os seus ossos para sempre…
O douramento da capela achava-se concluído em 1797, tendo assim o Convento aceito a proposta de Fr. Manuel do Monte Carmelo.
1820 (após) e até c. 1829
Contemporâneo ao período de funcionamento do Hospital Militar no Convento do Carmo, ocorreram roubos na Igreja. Do Altar do Santíssimo Sacramento roubaram o resplendor do Cristo Crucificado; do Altar do Bom Jesus dos Passos, retiraram também o resplendor dessa imagem.
1848 / 1852
Contrato celebrado entre os Carmelitas e a Irmandade de São José da Agonia (1848). Permitia a transferência dessa Irmandade do Hospício da Penha (Capuchinhos) para a Igreja do Carmo. A Irmandade de São José da Agonia veio ocupar a Capela do Bom Jesus dos Passos. Manteve-se a imagem do Bom Jesus no seu nicho de fins do século XVIII. A imagem de São José foi colocada no nicho em que estava N. Sra. da Soledade. A imagem da Soledade deveria ser transferida para a Sacristia para altar próprio a ser feito pela Irmandade.
1850
Nesse ano faz-se Termo sobre o estado actual do Convento na posse do prior Fr. Serafim do Coração de Maria. Ao percorrerem a Igreja concluiu-se que ela estava com …pouca decência e zelo porque a Capella-Mór se acha (sic) mais de hum anno (?) sem panno que cobre o camarim do throno, sem castiçaes e ramalhetes; sem ‘toldo’ (para?) o Nicho de N. Snra. do Carmo, e a banqueta desse altar com os castiçais com tocos de vella.
Quanto aos altares collateraes (corpo da igreja) os danos estendiam-se, também, a eles. O vidro do Nicho de N. S. da Boa Morte estava quebrado (desde 1849); as grades que circulam os Altares e Capella-Mór em muitas partes quebradas; o Altar do SS. Sacramento sem iluminação de vela e lâmpada do Santíssimo; na Sacristia verificou-se falta generalizada e mau-estado do vestuário para as celebrações religiosas.
1857
Segundo Pereira da Costa, a Igreja do Convento do Carmo …tem passado por várias obras, umas novas e outras de reparos, sendo as mais notáveis as empreendidas em 1857 pelo Provincial Fr. João da Assunção Moura, que as estendem até a frontaria do templo, concluindo por fazer um espaçoso átrio, cercado de alta gradaria de ferro com seus competentes portões de frente e laterais. Informa Fr. André Prat, que esta grade foi removida em 1918, por ordem da Prefeitura [do Recife], em virtude do novo calçamento e ajardinamento da praça do Carmo.
1883
Em 1883 saiu em Procissão da Igreja de S. José do Ribamar, a Confraria de N. Sra. da Luz, transferindo-se para capela na Igreja do Convento do Carmo, do Recife. Desde aquele ano, Inventários da Igreja (preservados) referem-se ao Altar de N. Sra. das Candeias ou N. Sra. da Luz; o qual parece ter ocupado desde então a mesma capela lateral do lado da Epístola (direita).
1897 – 1898 / 1902 – 1906 / 1921
Em 1895 Carmelitas espanhóis por delegação episcopal e papal vão assumir o espólio dos antigos conventos da Província Carmelitana de Pernambuco. Vão iniciar obras no Convento do Carmo, do Recife desde 1897, pelos provinciais Fr. Mariano Gordon, Fr. Cirilo Font, até Fr. André Prat, em 1921.
No período (1897 – 98), iniciaram-se as obras pela remodelação do altar-mór; construindo-se novo camarim, avançando-se sobre a antiga sacristia: formato semicircular, abóbada e clarabóia, tudo sobre pilastras. Nessa época constrói-se espaço para uma ‘nova sacristia’ anexa ao corredor lateral da capela-mor (lado direito).
Nos primeiros anos do século XX, os Inventários referem-se aos estragos nos altares (inclusive dos sacrários) que necessitavam consertos (1902-03). Em 1905 foi remodelado o altar do Coração de Jesus, iniciando-se a pintura ornamental da fachada da Igreja, trabalho do artista Fr. Joaquim Ortello. Em 1906, fez-se o douramento e pintura dos altares de N. S. da Conceição e o da Boa Morte. Em 1910 ocorre a remodelação e pintura da Capella de S. José, colocando-se vitrais nessa capela e nas janelas laterais do arco da capela-mor. Em 1912, substituiu-se o ladrilho e lages de pedra por mármore e mosaico, na Igreja e dependências.
Em 1915 vai concluir-se trono do camarim da capela-mor, obra do artista alemão Heinrich Moser: figuração celestial em cimento armado e pintado, modelagem de figuras do mesmo material para entronização da Imagem do Carmo, faz-se também nesse ano, a instalação elétrica (igreja, interior, exterior, dependências). Em 1918, colocam-se nos nichos da fachada da igreja as estátuas dos Profetas Elias e Eliseu, feitas em cimento armado por H. Moser.
Entre 1919-20 o mesmo artista fará vitrais com monogramas marianos e cruzes, para as janelas da antiga sacristia. Em 1921 o interior da Igreja receberá total ornamentação em pintura e estuque, trabalho de pintura figurativa (forro da nave e do sub-coro) relativa a temas da iconografia carmelitana. Os elementos arquitetônicos foram pintados e os vãos das tribunas receberam pinturas simulando painéis ou grandes reservas com gramática ornamental de Estilo Rococó, relevados em estuque colorido. Em 1921 as reformas parecem concluir-se pela construção de um pórtico (?) na parte posterior da Igreja, para acesso dos fiéis pela rua da Concórdia e travessa Marquês do Herval.
1908 – 1909 / 1918 – 1919
Em 1908 o clero pernambucano, associações religiosas católicas e parte da população católica em lista assinada, solicitam ao arcebispo D. Luís de Brito que encaminhasse ao papa Pio X, súplica no sentido de que N. Sra. do Carmo, fosse canonicamente declarada Padroeira da Cidade do Recife. A concordância papal fez-se por diploma pontifício do mesmo anno de 1908. A celebração do padroado fez-se na Festa do Carmo de 15 de julho de 1909. Mais adiante, em 1918, autoridades religiosas, civis e militares de Pernambuco pedem ao papa a coroação de N. Sra. do Carmo, como Padroeira do Recife. Breve do Papa Benedito XV, de 1918, autoriza o privilégio. A cerimônia de coroação ocorreu a 21 de setembro de 1919, em cerimônia episcopal e popular, realizada em altar montado diante da fachada lateral (oeste) da Faculdade de Direito do Recife.
1917 / 1920 / 1922
Nesse período, a antiga Igreja conventual do Carmo, renovada sob os reparos e intervenções ao gosto do Ecletismo (europeu), abrigando a padroeira do Recife, receberá várias titulações honoríficas e dignidades eclesiásticas, concedidas pelo Vaticano (Roma). Em 1917, a Igreja do Carmo era considerada como agregada à Basílica Vaticana (S. Pedro); em 1920, na festa do Carmo, recebia o título de Basílica Menor; em 1922, no 3º aniversario da coroação canônica da imagem de N. Sra. do Carmo fez-se a sagração da Basílica do Carmo, pelo arcebispo de Olinda e Recife, D. Miguel de Lima Valverde.
Fonte
Acervo IPHANFernando Ponce Leon
Recife, 2003
Pesquisado emBiblioteca do IPHAN de Pernambuco