Recife

Igreja Divino Espirito Santo

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Igreja Divino Espirito Santo

No extremo sul da Rua do Imperador D. Pero está situada a Praça 1817, que assinala a memória dos mártires da República de Pernambuco daquele ano

Dominando o local, encontra-se a Igreja do Divino Espírito Santo, onde, durante o Brasil Holandês funcionou o templo dos calvinistas franceses; o único templo levantado pelos holandeses no Recife. Em suas imediações, ficava a Porta Sil da cidade Murícia, também conhecida por “Porta de Santo Antonio”, por ondem entraram as tropas liso-brasileiras quando da Restauração Pernambucana, ao meio-dia de 27 de Janeiro de 1654.

Ao arquiteto Pieter Jansz Post (1608-1669), que trabalhava com Jacob van Campen na construção da Muritshuis em Haia, é atribuído o traçado urbano da Cidade Maurícia, bem como o projeto de alguns empreendimentos desenvolvidos pelo conde de Nassau no Brasil, a saber : o Palácio de Friburgo, denominado pelos portugueses de Palácio das Torres; a Casa da Boa Vista; a Igreja dos Calvinistas Franceses, “uma réplica em ponto pequeno da Catedral de Haarlem”. A singular igreja dos Calvnistas, com sua planta em forma de cruz e uma torre na inserção das duas naves, aparece por duas vezes nos desenhos de seu irmão, Frans Post, ao retratar a Cidade Maurícia para o livro de Gaspar van Baerle (1647). Um deles tem sua denominação em latim: Templum Galliucum.

Apanhado Histórico

Com o aumento da comunidade calvinista de língua francesa, o rico comerciante Jean Aragon encabeçou o pedido da construção de um igreja para as atividades religiosas dos calvinistas franceses. O templo veio a ser construído, em 142, a pedido dos reverendos La Rivière e Auton, qualidade de deputados do Sí nodo realizado naquele ano em Delft. Para a construção, contribuiu o Conselho dos XIX com a importância de 4.000 florins.

A esta importância se juntaram mais de 4.000 florins obtidos de multa, imposta em 29 de julho de 1642, pelo conde João Maurício de Nassau, ao Judeu Danel Gabilho “em um processo por palavras blasfemas que proferiu”.

Nesta igreja exerceu o seu ministério o reverendo Vicent Joachim Soler, “um pregador sem papas na língua que não cansava de elogiar Pernambuco e de comer mangabas”, no período de 1636 a 1644. Soler, que era nascido em Valência (Espanha), tem o seu nome bastante citado na crônica do frei Manuel Calado que diz ter sido sua filha, Margarida Soler, amante do conde de Nassau que a desprezou; “acomodando-se com uma filha do sargento-mor Baía, cujo sentimento havia sido causa de a filha do Soler morrer de paixão e tristes”. De Vicent Soler se conhecem 17 cartas endereçadas do Recife a André Rivet, professor de Teologia da Universidade de Leiden e preceptor do Príncipe de Orange, que foi depois Guilherme II; cinco outras cartas endereçadas a Câmara da Zelândia (1637-37) e “um folheto curioso impresso em Amsterdã em 139, no qual descreva as terras e os costumes do Brasil, com observações e informes valioso”.¹

Com a expulsão dos holandeses, em 1654, foi o edifício entregue aos padres da Companhia de Jesus para nele estabelecer o Colégio do Recife. Entre 1686 e 1689, o templo passou por reformas, confiadas ao metre-pedreiro Antônio Fernandes de Matos, que acresceu no seu lado direito o edifício do colégio (demolido para dar lugar ao último trecho da rua do imperador). Sob a direção dos padres jesuítas, o templo recebeu a invocação de Nossa Senhora do Ó. No seu lado esquerdo, foi construída a Capela das Congregações Marianas, fundadas em 1687, que ostenta em sua fachada data de 1708.

As obras de construção, dirigidas por Antônio Fernandes de Matos, começaram em 18 de dezembro de 1686, dia de Nossa Senhora do Ó, prosseguindo sem interrupções até sua inauguração em 17 de dezembro de 1690. Tiveram início a partir da sacristia, continuando com as capelas e a nave central. Além da capela-mor, havia quatro laterais, duas no cruzeiro e duas no corpo da igreja, possuindo o templo 60 palmos de largura (13,20 m) por 120 palmos (26,40 m). A fachada da igreja da igreja dos jesuítas era diversa da de hoje, avançada em relação às duas torres, formando assim um pórtico, ou nártex, como demonstra José Antônio de Gonçalves de Mello, em desenho feito a seu pedido pelo arquiteto Augusto Reinaldo. O pórtico de entrada possuía “cinco arcos apoiados sobre vinte colunas; no piso superior, sobre o nártex, situava-se o coro, iluminado por cinco janelas, em correspondência aos arcos, rematando-se a fachada com um frontão triangular, ‘sendo tudo em cantaria lavrada’. Do nártex tinha-se a entrada para a nave pelas três porta que hoje são as ortas externas da igreja, sobre as quais se lê a data 1689”.²

Funcionou o Colégio Jesuíta do Recife até a extinção daquela Ordem, pelo Marquês de Pombal, no ano de 1760. Entregue ao abandono, o edifício passou a ter vários usos não religiosos, como estrebaria, onde os oficiais de guarda do Palácio do Governo, que funcionava no prédio do colégio ao lado, guardavam seus cavalos; armazém de material bélico; nos seus consistórios, dependências e nave central, funcionaram a casa de vacina, escola pública, e a sua capela-mor foi ocupada como palco de representações teatrais.

Em 1823, o governo provincial, desejando nele instalar o Palácio do Governo, determinou a demolição do frontispício, desaparecendo assim o nártex, o coro sobre o qual se situava e a fachada cantaria. Nele também funcionou o Tribunal da Relação, instalado em 13 de agosto de 1822.

Na primeira metade do século XIX, por intervenção do frei Caetano de Messina, surgiu um movimento em favor da restauração da antiga Igreja dos Jesuítas. Depois de longas negociações, foi o prédio entregue a Irmandade do Divino Espírito Santo, em 29 de Junho de 1855, que de imediato iniciou as obras mais urgentes. Os trabalho foram concluídos em três meses e a cerimônia de reconciliação do templo foi realizada pelo bispo diocesano Dom João da Purificação Marques Perdigão em 8 de setembro daquele ano, tendo o Divino Espirito Santo como protetor.

O altar-mor da nova igreja teve o seu projeto assinado pelo engenheiro Mamede Alves Ferreira, então diretor de Obras Públicas da Província, executado em 1870 pelo mestre carpina Francisco Ricardo Costa.

Durante as obras de restauração, foi descoberta uma grande cripta abobada, sob o arco cruzeiro, para qual se tinha acesso por uma escadaria que cobria uma grande laje, que se pensava ser uma simples lápide sepulcral. Na cripta foram encontrados seus caixões que ficaram fechados, ventilando-se a possibilidade de em um deles conter os restos mortais do governador e capitão-general de Pernambuco Fernão Cabral, falecido em 8 de setembro de 1699 e sepultado nessa igreja.

As obras continuaram até a completa restauração da igreja, restando como vestígios do primitivo templo as portadas em pedra da fachada, as armas da Ordem jesuítica, esculpidas na entrada do arco da capela-mor e sobre a verga da porta central da fachada, as pesadas e almofadadas portas dos corredores laterais que dão para a capela-mor, as varandas das quatro tribunas, em belíssimo trabalho de talha vazada, e as cruzes da via-sacra esculpidas em pedra.

A igreja possui duas torres de estilos e alturas diferentes, a mais baixa, a do lado oeste, pertenceu à igreja primitiva dos jesuítas. A mais alta, do lado leste, de traço airoso, elegante, perdeu sua cúpula de coroamento, demolida em 1819 por ordem do governador Luís do Rego Barreto, que nela implantou a torre de mensagens do telégrafo semafórico. Desta torre, o artista Frederick Hagedorn (1814-1899) obteve, em 1855, um dos mais belos e detalhados panoramas circulares do Recife, dividido em três estampas (350mmx827mm) da maior importância para o estudo do desenvolvimento urbano da cidade.

A igreja foi visitada em 22 de novembro de 1859, pelo imperador D. Pedro II, acompanhado da imperatriz Tereza Cristina, quando de sua visita oficial de Pernambuco, ocasião em que nela foi realizado um solene Te Deum.

Na oportunidade, teria D. Pedro II exclamado: “Pernambuco é um céu aberto na realidade, a Veneza Americana seduzia e ecatava, pois, como mágica sereia estava deslumbrante de esplendores”, conforme transcreve a edição do Diário de Pernambuco de 23 de novembro daquele ano.

Dentre as imagens da Igreja do Divino Espirito Santo, chama a atenção, pelo seu aspecto histórico, a de Santo Antônio do Arco. A imagem encontra-se nesta igreja desde 4 de agosto de 1918, quando veio a ser transferida em solene procissão. Desde o século, XVIII a imagem do Santo Antônio do Arco encontrava-se entronizada no arco da mesma invocação, localizado que era na descida da ponte do Recife (hoje Maurício de Nassau) e demolido em 1931. Esculpida em pedra, esta imagem é de autoria do artista João Pereira, tendo sido confeccionada a mandado do governador D. marcos de Noronha no ano de 1746, juntamente com a imagem de Nossa Senhora da Conceição, confeccionada no mesmo material. Na ocasião, recebeu o mestre entalhador a quantia de 22$500

Fonte
Silva, Leonardo Dantas, 1945.
Pernambuco preservado: histórico dos bens tombados no Estado de Pernambuco / Leonardo Dantas Silva .-2. ed.- Recife: L. Dantas Silva – Editor, 2008.
272p. il.
inclui bibliografia
Histórico de 76 monumentos e quatro sítios históricos tombados pelo IPHAN no Estado de Pernambuco.

ISBN 85-901528-8-X
1.Arte – Pernambuco – História. 1. Título
CDU 7 (091) (813.4)

Pesquisado emBiblioteca do IPHAN de Pernambuco

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