Recife

Igreja Nossa Senhora da Conceição dos Militares

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Igreja Nossa Senhora da Conceição dos Militares

Localizada na Rua Nova, esta igreja está em processo de reforma, com previsão para reabertura para 2020.

1722 – 1723 – 1724
Nessa época iniciaram-se as obras de construção da futura Igreja da Conceição dos Soldados, na rua Nova, da Vila de Sto. Antônio do Recife. Em finais de 1722 os sargentos e soldados (fundadores) já tinham o apoio corporativo do Mestre de Campo do seu Terço, D. Francisco de Sousa. Haviam, também, recebido as necessárias licenças do governador da capitania de Pernambuco, D. Manoel Rolim de Moura, e do Cabido da Sé de Olinda.

Uma carta de D. João V (rei de Portugal) ao governador da capitania (de novembro de 1724) pedia-lhe informação no requerimento (pedindo ajuda de custo) que recebera dos soldados do Terço da Vila do Recife. Segundo o rei, aqueles soldados afirmavam que …tinhão começado a fundar Igreja (…) porque nunca a tiverão pela invocação de Nossa Senhora da Conceição para nella (…) conservarem a sua Confraria…

Nas cópias da Representação dos soldados do Terço do Recife ao Rei, não há indicação da época de sua redação/envio. Sendo o pedido de informe de finais de 1724, é possível supor que o Requerimento dos soldados ao rei fosse de 1723 ou mesmo de 1724.

1724
Sebastião da Rocha Pitta (1660 – 1738) no seu livro História da América Portuguesa (Lisboa, 1730), descreve a Vila do Recife como era c. de 1724. Refere-se, ali, a outra porção que chamam Banda de Santo Antonio e cidade Mauriceia… Rocha Pitta elogia Santo Antônio por ser vistoso e ficar em mais planície que o Recife. Refere-se a paisagem construída e aos edifícios ali existentes: Tem estupendas fabricas, magestosos templos, e conventos de padres da Companhia, dos religiosos capuchos, dos da Reforma do Carmo, dos Barbônios de N. S. da Penha de França, as igrejas de N. S. do Paraíso, em que há um hospital ereto por D. João de Sousa, de que são administradores seus herdeiros, as de N. S. do Livramento e do Rosário, onde há sacrário, com um coadjutor,…

O fato de Rocha Pitta não referir-se, entre as igrejas citadas, àquela da Conceição dos Soldados (depois dos Militares), pode ser uma evidência, em paralelo com a documentação administrativa, de que a sua construção estaria apenas iniciada. Em 1724 a Conceição dos Soldados/Militares não era ainda igreja aberta ao culto religioso.

1725 – 1726 / 1728
Em agosto de 1725 os sargentos e soldados do Terço do Recife fizeram petição ao governador da capitania. Nela informavam sobre a construção da sua Igreja de N. S. da Conceição. Afirmavam: …Como tem feito a Capella Mor com as limitadas esmolas dos seus soldos… naquela altura com o pagamento atrasado. Era o …motivo por quê está parada sendo hua obra de tanto fundamento… Para a poderem continuar, pediriam esmolla ao rei. Nesse sentido, solicitavam ao governador que mandasse um engenheiro certificar o estado em que está a dita Igreja e o que vale a obra feita…, e do que se precisaria, em custos financeiros, para sua conclusão.

O sargento mor Engenheiro Diogo da Silveira Veloso fora examinar …a obra que tem feyto os soldados do Terço desta villa do Re na Igreja nova que fundavão… para sua confraria…

Avaliava o engenheiro que as obras já feitas valiam cerca de hum conto quatrocentos e cincoenta e cinco mil Reis… O que estava por fazer na obra?

Diz o engenheiro que a obra que está por fazer que he quazi todo o corpo da Igreja e o seu frontespício de que só se achão feytos os alicerces… Em seqüência o engenheiro Diogo da Silveira Veloso, considera o custo financeiro do que faltava na obra: poderá importar na mesma conformidade da que está feyta dous contos, e duzentos mil Reis, da obra de pedreyro e da obra de carpinteiro…

Em fevereiro de 1726 nova petição dos militares do Terço do Recife era despachada no Conselho Ultramarino (Lisboa) para o rei. Nela, os militares diziam-se impossibilitados de continuar a obra da Igreja pela falta de pagamento dos seus soldos (dos quais tiravam parte para as obras); alegavam a necessidade que têm da dita Igreja em que se hão de sepultar e que portanto pediam …se lhes dê a ajuda de custo que pretendem para a obra.

A partir dessa súplica e despacho, o rei vai informar-se sobre o estado da obra, por ordem régia, para o provedor da fazenda real em Pernambuco. O provedor da fazenda, João do Rego Barros e o Engenheiro Diogo da Silveira Veloso farão uma vestoria na Igreja da qual fez-se a seguinte informação em setembro de 1726: …fui pessoalmente a ver a Igreja q. tem / principiado a N. Sra. da Conceição, para / nella Serem Sepultados, e achei q. tem / feito a Capella Mor somente, sem a ul- / tima perfeição, e os alicerces em Redondo, / E as paredes limitadas, pella geral Razão / por não estarem acabadas de todo estão discubertas, dizendose Missa na Capella Mor todos os dias…

A partir da Informação que recebera (em 1726) do provedor da fazenda real em Pernambuco (no qual estava o orçamento do engenheiro relativo às obras ainda por fazer), D. João vai ordenar (só em dezembro de 1728) àquele provedor que dos recursos financeiros existentes na sua provedoria, se dessem aos sargentos e soldados para a obra da sua igreja … mil cruzados pagos em dous annos de ajuda de Custo para esta obra.

1737 – 1741
Em 1737 D. João V, rei de Portugal, nomeou para Tenente-General da capitania de Pernambuco, o Engenheiro Militar João Lobo de Lacerda. Esse militar português vai associar-se à Irmandade da Conceição dos Militares, por exercício de cargo diretivo e pelo legado de bens materiais à instituição.

Sua formação de Engenheiro Militar vinha da freqüência à Academia Militar (6 anos). Em 1729 fora destacado para a obra do Convento de Mafra, onde assistio por longo tempo (até c. 1735).

Sua transferência e engajamento no corpo militar de Pernambuco, tinha como objetivo a expulsão dos franceses da Ilha de Fernando de Noronha. Ali desembarcou com as fragatas reais que levavam soldados, mantimentos, e petrechos de guerra. Iniciou a construção de fortificações na ilha, montando suas peças de artilharia, pondo-as em funcionamento, além de construir armazéns.

Por declaração sua, sabe-se que João Lobo de Lacerda foi secretário daquela Irmandade por vinte anos, isto é, entre 1741 e 1761.

Com a perda da documentação histórica do século XVIII, da Conceição dos Militares, ficou impossível biografar a intervenção de João de Lacerda naquela Igreja. Supõe-se que sua chegada a Pernambuco e ligação à Irmandade seja contemporânea das obras da conclusão da Igreja e do início da ornamentação de sua arquitetura.

1738 / 1746 / 1749
Na cronologia de Pernambuco Colonial esse período foi aquele dos sucessivos governos de Henrique Luis Pereira Freire, e do VI Conde dos Arcos, D. Marcos de Noronha. Em Portugal vivia-se o período final do reinado de D. João V.

Ocorrem no âmbito desse mesmo período, as primeiras narrativas e elementos cartográficos permitindo supor, que a Igreja da Conceição dos Militares já estivesse concluída nessa época.

Uma primeira referência sobre a Conceição dos Militares é aquela da Narrativa Histórica das Calamidades de Pernambuco, escrita pelo Dr. Manoel dos Santos, sobre o conflito Olinda X Recife (1707 – 1715). Essa obra revista entre 1738 e 1746, foi concluída em 1749. Na revisão, incorpora-se uma descrição da Vila do Recife naquele período. Manuel dos Santos vai, então, referir-se às igrejas existentes na banda de Santo Antônio: Tem mais as igrejas seguintes: de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, de Nossa Senhora do Livramento dos pardos, de Nossa Senhora do Paraíso do hospital (…), de Nossa Senhora do Terço, que modernamente se fabricou com esmolas, e de Nossa Senhora da Conceição dos Soldados; e, ultimamente, a da Irmandade de São Pedro dos Clérigos, que está quase completa com toda grandeza e suntuosidade.

A Igreja da Conceição dos Militares está localizada na Planta genographica da Povoaçam de Recife, e S. Antonio… (ao final da Rua Nova, quase à margem do rio Capibaribe). Está referida na Explicaçam (legendas numeradas) daquela planta: 39 Igra. De N. Sra. da Conceiçam dos / Soldados. Essa planta está associada ao governo do Conde dos Arcos, podendo ter sido levantada entre 1746 e 1749.

1750 / 1752 / 1753 / 1754
Em meados do século XVIII, iniciando-se o reinado de D. José I de Portugal, a Igreja da Conceição dos Militares já estava construída (faltando-lhe as torres). Tendo já iniciado a integração de vários bens artísticos, pretendia-se continuar as obras, para acréscimo do que faltava à conclusão do interior da Igreja. Para conhecimento histórico-artístico dessa fase da Igreja, são fontes importantes o Diário do governador Corrêa de Sá, e as Representações, que tanto ele, como os militares de Infantaria e da Artilharia da Irmandade, enviaram à administração colonial da coroa portuguesa.

Como governador da capitania de Pernambuco, Corrêa de Sá assistiu à benção de três Imagens novas que foram colocadas na Conceição dos Militares: em novembro de 1750 a da própria imagem nova de Nossa Senhora, em dezembro de 1752, assistiu colocar-se em um dos alteres colaterais, uma imagem do Senhor Crucificado, com a invocação do Senhor dos Navegantes; e em julho de 1753 pode assistir a benção da nova imagem de São João Batista.

Em 1754 Corrêa de Sá foi participante e observador de dois acontecimentos relativos a futuras obras na Conceição dos Militares. Em fevereiro desse ano esteve na Mesa (reunião decisória) na Irmandade …para se tratar da obra do forro da Igreja. Em 31 de agosto, vai de manhã à Igreja da Conceição dos Soldados ver a manobra de levantar o telhado. Observou José Antonio Gonsalves de Mello que por essas referências parece que ao pé direito da Igreja deu-se maior altura.

Ainda em 1754, Corrêa de Sá e a Irmandade dos Militares associam-se no envio de duas Representações (exposição de motivos) à administração colonial portuguesa, pedindo ajuda ao rei, para continuação das obras da igreja, e a doação de objetos que faltavam para o culto litúrgico. Nessas petições descreve-se o que já estava feito na igreja.

Na sua Representação, Corrêa de Sá fala de como os Militares do Recife tomarão para sua Padroeyra / N. Snra. da Conceyção, formando hua Irmandade com pioz / e bem ordenados estatutos, … E que os soldados apesar de seus parcos recursos tem feyto huma / das melhores Igrejas que tem esta Villa, e adornando a Capella  / Mor, e altares colaterais, e púlpito de talha na ultima perfeição; / e porque o primor della faz mais precizo o forro da Igreja / que ainda falta; de novo concorrerão com esmolla mais avultada / para se dar principio a esta obra. Ponderava, então, que os militares após tantas despesas estavam exauridos de forças, impossibilitados, assim, de custearem mais despesas de obras. Nesse sentido, eles pediam que fosse a piedade régia aquela que coroasse a obra pretendida, isto é, a execução do forro da igreja.

Na Representação dos oficiais e soldados do Regimento de Infantaria, e Corpo de Artilharia, diziam que edificarão … a Snra da Conceyção hua Igreja (…) e eregirão Irmandade; …nella ornando de talha de sedro os seus altares, e paramentando-as de imagens novas, e outras obras, onde gastaram dos seus soldos mais de vinte e sinco contos de reis… Faltavam ainda vestuário litúrgico para os capelães, e os sinos. O que não podiam adquirir os …Suplicantes por terem ainda obras, que continuar, como seja o forro da Igreja, Camarim, Tribuna, e conclusão das Torres, e mandar dourar os ditos altares e forro… Por isso, pediam ao rei mandar dar para a Igreja dos Suppes / Ornamentos brancos, vermelhos, verdes e rochos para três altares, / e Sinos para as duas torres,… O pedido destinava-se a celebração do culto divino e acabar as obras, as quais, alegavam, sempre foram feitas às custas dos militares.

1757 – 1759
Na sua obra Desagravos do Brasil e Glória de Pernambuco (concluída em 1757), D. Domingos do Loreto Couto (da Academia Brasílica dos Renascidos) fez o elogio da Igreja da Conceição dos Soldados / Militares. Descrevendo o que designou como Cidade Mauricéia alias parte de S. Francisco, isto é, a povoação de Santo Antônio, diz Loreto Couto: Os Militares do Regimento de guarnição desta praça fundarão hua fermosa (sic) Igreja, que dedicarão a Senhora da Conceição, a quem servem com grande devoção e dispêndio. A grandeza do edifício, o primor do seu aceyo, e riqueza do seu adorno lhe dá primazia sobre todas as capellas, que tem os militares de Portugal, ou Brasil.

Esperemos que esse elogio não fosse de encomenda; pois Loreto Couto (c. 1696 – c. 1762) vai entrar como Irmão da Conceição dos Militares em julho de 1759, pagando suas despesas e prometendo guardar o Compromisso della.

1761 / 1763 / 1767
Requerimento de João Lobo de Lacerda a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, para dirigi-lo ao rei, D. José I. Nele, declarava o Coronel João Lobo de Lacerda, que há vinte annos que sou escrivão da Irmandade de N. Snra. / da Conceyção Padroeyra do meu Regimento para cuja Igreja, e aplauzo / da dita Snra. Concorro, e tenho concorrido com o quê me he pocivel…

Ele desejava por seu falecimento deixar a dotação de metade do que recebia pela sua patente militar, para celebração anual da festa da Conceição naquela igreja. Segundo Pereira da Costa, João Lobo de Lacerda faleceu no Recife em 1767, e fez a Igreja de N. Sra. da Conceição dos Militares, legatária de todos os seus bens.

Uma lápide dos seus restos mortaes encontra-se na sacristia dessa igreja. Sua inscrição (feita em 1930), refere-se ao Coronel João Lobo de Lacerda como tendo sido o doador do actual Patrimônio desta Igreja, feito em 1763. Alguma dotação deve ter sido por ele destinada à celebração da Festa da Imaculada Conceição (8 de dezembro). Pois nos Livros de Receita e Despesa da Irmandade, na primeira metade do século XIX, nas despesas anuais das festas da Conceição, registram-se aquelas dispendidas com as missas em sufrágio do Coronel João Lobo de Lacerda.

1781
Está datado deste ano – 1781 – o painel (pintura sobre madeira) existente no forro do subcoro da Igreja da Conceição dos Militares, representando a 1ª Batalha nos Montes Guararapes em 19 de Abril de 1648. O painel para eterno monumento foi mandado executar por José Cezar de Menezes, governador e capitão general de Pernambuco em 1781.

A colocação desse painel de memorável Victoria sobre os holandeses, indica o caráter corporativo (militar) e votivo (à Conceição, padroeira do Reino de Portugal desde a Restauração, 1640), que marcou a edificação da Igreja da Conceição dos Soldados / Militares no Recife. Na Restauração portuguesa (1640–68) e na Restauração pernambucana (1645-54), surgem várias manifestações culturais derivadas da concepção providencialista da História – característica do século XVII. Nessa concepção de mundo, pede-se, espera-se, pela intervenção do Divino no terreno.

Nesse sentido, explicou-se a expulsão dos holandeses (hereges) não só pela bravura luso-brasileira, mas também pelo auxílio que nas batalhas receberam da Virgem Maria (Desterro, Prazeres, Conceição), associando-se nesta ajuda intencional o português Santo Antônio (militar com soldo, e padroeiro de fortes e corporações militares), bem como S. João Batista, também cultuado pelos militares.

1789
A tradição escrita da Irmandade da Conceição dos Militares refere-se à concessão de altares privilegiados feita pelo Vaticano (Roma) nos quais deviam-se celebrar as missas pelos irmãos mortos na Irmandade. O papa Pio VI atendia, em julho de 1789, às súplicas da Irmandade, concedendo: seja o altar-mor, aonde permanece colocada a nossa Padroeira, positivamente privilegiado com generosidade, sufragando a todas, ou a qualquer alma do purgatório de indulgência consecutiva do sacrosanto sacrifício da missa que apresentar todo e qualquer Sacerdote secular, ou regular de qualquer ordem, congregação ou instituto.

Esse privilégio papal poderá indicar que a Irmandade e sua Igreja já atendiam as normas do cerimonial litúrgico católico (decoro). O ano de 1789 pode servir como marco (final) para estudo do interior da Igreja no século XVIII. É possível que o interior da igreja, em sua dimensão arquitetônica, nas obras de talha (retábulos, púlpitos, arco cruzeiro, varandim e forro, camarim, trono e forro da capela-mor já estivessem concluídos), além do programa iconográfico mariano e cristológico completo – o que notabiliza essa Igreja no patrimônio histórico e artístico nacional.

1803 / 1804 / 1805
Nesse curto período conclui-se (parcialmente?) a parte superior da fachada da Conceição dos Militares. Ergueram-se a torre-sineira (esquerda) e o frontispício de tipo fingido, isto é, construído em alvenaria de tijolo, com seu revestimento em massa (com seus perfis e ornatos bem executados). Por consulta a Livro de Receita e Despesa, do início do século XIX, pode-se concluir que as obras conjuntas iniciaram-se em novembro de 1803. Foram concluídas em dezembro de 1804; fazendo-se a sagração dos sinos e colocando-os na sua torre.

Em 1805, arrolando-se as dívidas pela obra executada, vê-se o nome do Pedreiro Chrispim Paes Varella, chamado no livro contábil de o Mestre de obra da Torre.

Ele entrara para a Irmandade em 8 de dezembro de 1804; nessa oportunidade nada pagou por sua entrada, considerando-se, então, ter concorrido para [a] bemfeitoria da torres e frontispício.

De forma efetiva, ou apenas simbólica, o nome de Chrispim Paes Varella aparece como credor com pagamentos a receber pela obra da torre até outubro de 1814, quando sua viúva recebe pagamento.

Fonte

Inventário pesquisado no acervo técnico da biblioteca do IPHAN de Pernambuco

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