Recife

Igreja São José do Ribamar

acesseigrejas on 09/06/2019

Igreja São José do Ribamar

Localizada no bairro de São José, a igreja de São José do Ribamar, encontra-se interditada.

Na história urbana da Vila do Recife, durante a 1ª metade e até meados do século XVIII, observou-se que um dos pontos de sua expansão demográfico-construtiva era para o sul da Ilha de Antônio Vaz / Cidade Maurícia / Freguesia de Santo Antônio (1789 – 90).

A partir da cartografia holandesa publicada e estudada, vê-se que a urbanização setecentista fez-se em áreas que, anteriormente, constituíram o programa defensivo da engenharia militar, hidráulica, e do projetado urbanismo concebidos no período nassoviano (1637 – 1644).

O progressivo arruamento do futuro Bairro de São José pode ser acompanhado através de cartas de sesmarias – terrenos incultos ou não, ocupados, transmitidos, por doação governamental -, concedidas para a construção a moradores, por governadores da capitania de Pernambuco.

O cordeamento (medição das áreas disponíveis) e o conseqüente arruamento (traçado, demarcação e abertura de ruas), eram funções exercidas pelos Engenheiros – Militares que informavam a concessão das cartas de doação e sesmarias; consideravam o que já existia, enquanto quarteirões construídos, bem como a distância a ser mantida em torno das fortificações.

As sesmarias referem-se a três Engenheiros-Militares que naquela época atendiam com seus pareceres às concessões de lotes urbanos em torno da Capela de N. Sra. do Terço, até a linha de segurança que deveria ser mantida próxima ao Forte das Cinco Pontas. Foram eles, João de Macedo Corte Real (c. 1674 – 1733) referido em 1728-29; Diogo da Silveira Veloso (1679-80? – 1750), referido até 1746; e, por último, o Capitão-Engenheiro Antônio José de Lemos, citado em 1746, 1757-58 e, ainda, em 1765.

Assim, nessa área urbana da Vila do Recife em expansão, seria construída a futura Igreja de São José do Ribamar, da beira-mar, situando-se ao sul do Hospício dos Capuchinhos (N. Sra. da Penha), Italianos, e pouco antes do Forte das Cinco Pontas.

Na Igreja de São José do Ribamar, vê-se, sobre o arco-cruzeiro da sua Capela-mor, inscrição (em relevo) na qual destacam-se, em oposição, duas datas: 1752 a 1778. Com essa periodização a Irmandade identificava, para seus Irmãos e freqüência, o começo e o término de obras de construção feitas naquela Igreja no período inscrito.

Quais foram as obras dessa Igreja que começadas em 1752 foram terminadas em 1778?

Nos Anais Pernambucanos, Pereira da Costa, referindo-se aos acontecimentos do Recife em 1752, vai citar aqueles relativos a constituição de patrimônio pela Irmandade de São José, para fundação da sua Igreja. Em 6 de junho de 1752 alcançara-se, 

Sentença de provisor do bispado, o cônego Dr. João Soares Barbosa, julgando suficiente o patrimônio feito pela Irmandade de São José do Ribamar para a fundação de uma igreja dedicada ao seu padroeiro, em um terreno que aforou, situado nas – Terras do Curado, na rua de Julião de França, – fora da porta de S. Antônio.

O patrimônio constituído pela irmandade para a fábrica da igreja, constava apenas da quantia de 100$000, proveniente das suas rendas, vencendo 6$250 annuais.

Perante o governo eclesiástico, obrigou-se a irmandade a construir a capela de pedra e cal, com cinco degraus pelo menos, sob pena de não se conceder licença para sua benção.

Em vereação da Câmara do Recife, de 27 de maio do mesmo ano [1752], compareceram o Juiz, o escrivão e o procurador dos ofícios de carpina e marceneiro, da Irmandade de S. José, santos dos seus ofícios, os quais requereram que pretendendo fundar uma igreja sob a invocação de S. José, “no campo do Curral, junto à cacimba chamada do Cajueiro”, em terras que aforaram ao Padre Mateus Correia; e ignorando-se [se] as ditas terras efetivamente pertenciam ao referido padre, ou à Câmara, que, neste caso, ofereciam o foro de oitenta réis por palmo, até que se resolvesse a quem de direito pertencia esse Terreno, o que a Câmara aceitou, mediante um Termo de responsabilidade, firmado no mesmo dia.

Efetivamente, neste mesmo ano de 1752, deu a irmandade começo às obras de construção da igreja, como consta documentadamente, as quais porém, não tiveram andamento à falta de recursos, e apenas começadas, ficaram em abandono por longos anos. (grifo nosso)

Na citação do Termo da vereação da Câmara do Recife (27 de maio de 1752), diz-se que a Irmandade de São José pretendia fundar a sua Igreja …em terras que aforaram ao Padre Mateus Correia… sendo declarado por aqueles Irmãos que eles ignoravam se …as ditas terras, efetivamente pertenciam ao referido padre…

O nome do Pe. Mateus Corrêa vai, posteriormente, aparecer em Livro de Receita e Despesa, da Irmandade de São José. Observa-se que desde o ano contábil de 1759 até aquele de 1779-80, sucedem-se as referências sobre as missas por sua intenção, e depois de 1765, citam-se os ofícios pela alma do Pe. Matheos Correa. Os registros contábeis da Irmandade declaram que aquela sua obrigação anual era devida ao fato daquele padre …nos dar a terra para a Igreja… Por motivo não explicado, as missas e ofícios eram celebrados no mesmo dia de Natal.

Nesse livro contábil, o Pe. Matheus Corrêa foi identificado como religioso do Convento da Madre de Deus, da Congregação do Oratório de S. Filipe Néri, no Recife. No Livro de Receita e Despesa consultado, fez-se, uma diferença nos tipos de celebração litúrgica devidas ao Pe. Matheos Correa. Assim, desde 1759 e até 1765 celebraram-se missas annuais pela intenção do Pe. Matheos Correa. Porém desde 1766 e até 1779-80, as celebrações foram chamadas como …officios pela alma do Pe. Matheus Correa. Pela mudança do tipo de celebração litúrgica é presumível que o referido padre doador tenha falecido entre dezembro de 1765 e até o Natal de 1766.

Sobre a fundação (1752) e abertura ao culto (1754) da Igreja de São José do Ribamar, uma fonte histórica importante é o Diário do Governador Correia de Sá 1749 a 1756. Diário publicado e anotado pelo historiador José Antonio Gonsalves de Mello. Luís José Correia de Sá, governou a capitania de Pernambuco na transição dos reinados de D. João V para o do seu filho D. José I de Portugal. Durante sua estada em Pernambuco, aquele governador, esteve na fundação dessa Igreja, participou da cerimônia da sua abertura ao culto e lhe fez duas visitas ao final do seu governo na capitania (1756).

Numa quinta-feira, 29 de Junho de 1752, registrou o Governador Correia de Sá no seu Diário:

(…) De tarde fui assistir à / função da primeira pe- / dra, que se lançou para / uma igreja que erigem / ao Sr. São José os ofi- / ciais carpinteiros, ta- / noeiros, marceneiros e / pedreiros. Levei eu / mesmo a pedra, o Co- / ronel do Regimento do / Recife João Lobo de / Lacerda, o Tenente-Coronel Patrício da Nóbrega e Vasconcelos, o Sargento-mor Pe- / dro de Morais Magalhães, ambos oficiais / do mesmo Regimento. / O sitio da Igreja é junto à Fortaleza das Cin- / co Pontas.

Sobre o que aconteceu no sábado 24 de Agosto de 1754, anotou o Gov. Correia de Sá, em Diário:

(…) Jantei na Madre de Deus, de tar- / de acompanhei a pro- / cissão que se fez, saindo da Congregação a / nova Imagem do Sr. / São José a colocar-se / na Igreja nova que lhe / têm feito os oficiais de vários ofícios, acompa- / nhou o Regimento. / Salvaram todas as fortalezas quando o Santo / entrou na nova Igreja.

No dia seguinte, domingo 25, ele voltaria à Igreja-nova dizendo:

Fui assistir à festa do / Sr. São José, na igreja nova.

Quando houve a abertura ao culto o que estava construído na Igreja nova de São José?

Desde junho de 1752 até agosto de 1754 são adquiridos vários materiais de construção para uma etapa inicial da obra da Igreja: tijolos, sacaduras de cal, tabuado (dúzias), telhas, balças de pedras de alvenaria e de pedra de cantaria, ferro (arrobas), ferragens (fechaduras e pregos). Nesse período, fez-se um Cofre, e alugou-se uma Casa para guarda/depósito daqueles materiais de construção adquiridos para a obra.

Entre 1752, 1753 e 1754 há referências periódicas às despesas com os trabalhadores na obra de construção da Igreja, sem especificação da parte do edifício que construía-se. Registram-se, então, …despesa(s) (…) com oficiais que andaram trabalhando na obra…; bem como o pagamento de dias de pretos serventes na obra (1752). Em 1753 a Irmandade paga a …despesa que fez com alguns oficiais que trabalhavão e pretos serventes… Em 1754 adquiriu-se quatro carros de madeira e 49 balças de pedras de alvenaria. Na Igreja nova havia dois regimes de trabalho: aqueles oficiais (pedreiros, carpinteiros?) da própria Irmandade, que, com seus dias de trabalho na obra, pagavam suas respectivas anuidades à Irmandade. Registrando-se, ainda, despesas com …pagamentos de pretos serventes da obra…

Entre 1753-1754, pode-se supor que construía-se a Capela-mor (da futura igreja) e um espaço anexo destinado a Sacristia. Em 1753 há referências à instalação de equipamentos hidráulicos (e de uso litúrgico). Foram despesas com o Lavatório e seu esguicho – da Sacristia – ? Referindo-se, também, à lavragem (execução em pedra de cantaria) das pias de água benta.

Em 1754 há distintas referências de pagamentos com despesas de pintura na Capela, e de caiação na Igreja. Teria a construção avançado além do arco da Capela-mor? A Irmandade apontou as duas despesas. Em primeiro lugar …despesa que fiz com o mestre que pintou a capela… e, que, também, …pintou hum frontal…, isto é, aquele painel que guarnece a frente da mesa do altar. Por essa breve informação, pode-se supor a função da pintura como ofício artístico de acabamento (ornamentação) das paredes da Capela-mor e do seu altar (pintura do frontal). Por outro lado, fez-se, também a despesa …com um preto que caiou a Igreja. Na documentação dessa época identifica-se sempre a separação profissional que havia entre o mestre-pintor (artista) e o caiador, ofício equiparável ao de outros serventes na mesma obra.

Desde 1754 compraram-se equipamentos litúrgicos e outros objetos para o culto na Igreja e funcionamento da Irmandade. Assim, adquiriu-se hum Calix de prata (10$920); Livros para assento de Defuntos e de Batistério; galhetas de estanho e vidro; duas pedras d’ara para o altar e um Sino.

Para abertura da Igreja nova fez-se procissão e benção do SS. Sacramento quando colocou-se a Imagem de São José. A Imagem de São José foi esculpida pelo imaginário Luis Nunes …o mestre que nos fez a Imagem do nosso Santo Patriarca e se assentou por nosso Irmão no dito Livro…

Desde a abertura ao culto da Igreja nova de São José, em 1754, na sua capela-mor, avançando-se até 1778, o que foi concluído da Igreja?

Nesse período conjuntural de quase um quarto de século (e talvez da sucessão de duas gerações) nas obras da Igreja parece haver predominado a aquisição de materiais de construção. Inicialmente, pode observar-se, uma periodização de ritmos desiguais.

Entre 1755 e 1757, após a abertura da Igreja ao culto, parece ter havido uma interrupção na aquisição de materiais para emprego nas obras, que não estão referidas nesta época. Desde 1758-59, reiniciam-se as compras de materiais para as obras. Não foram referidas em 1764. Porém, desde 1765 até 1769 essas despesas foram referidas anualmente. No período de 1762 – 1769 fez-se uma contínua aquisição de materiais e equipamentos construtivos, cujas despesas pagavam:

…trezentas e onze balças de pedra de alvenaria; vinte sacaduras de cal para a obra; pagar 56 canoas pequenas de areia; compra de padiolas para carregar areia e pedra; 86 canoas de areia (1758-59). Em 1760-61, houve despesa com a compra, pagamento de seis pedras de cantaria… bem como …pagar cento e vinte e cinco balças de [pedras] de alvenaria, e trinta de rachas (isto é, pedaços ou lascas de pedra usadas no preenchimento das paredes de alvenaria). Fez-se, ainda, neste ano, a compra de vinte sacaduras de cal, pregos, madeira para a coberta do telheiro, e telha para a obra, tijolos para a alvenaria; tábuas de louro; cordas de palha para a obra… No ano de 1762-63, compraram-se vários pregos para a obra, além de huma trave e duas balças de pedra…, registrando-se a despesa …com tijolos de barro e frete da canoa para o ladrilho… Em 1765 refere-se uma …despeza que [se] fez com o alferes e jangadas quando se foy a Pedreira…, bem como outra …despesa que fez pedras de alvenaria e carreto dellas… Em 1766 houve mais …despeza que fez [o tesoureiro] com pedra de alvenaria e carreto das ditas… Em 1768 continuam as despesas do tesoureiro da Irmandade …com pedras de cantaria e outras de alvenaria…, …com 9 milheiros de tijolo e a condução do dito…, com 9 sacaduras de cal, várias canoas de areia… Em 1769 as despesas prosseguiam na compra de pedras de alvenaria e cantaria, canoas de areia e de cal, madeiras (diversas), além da despesa que fez-se para se tirar pedra na pedreira.

Na obra da Igreja entre 1758 e até 1769 há, também, referências documentais contábeis daquelas despesas de pagamento dos jornais (trabalhos diários) feito aos oficiais e serventes (anônimos) ocupados na obra da Igreja.

Em 1758/1759 o tesoureiro da Irmandade registrou a …despesa que fiz em pagar dias de Pretos Serventes que trabalharão // na obra da Igreja e por Conduzir os [materiais de construção]. Fez, também, …despesa (…) em pagar Jornais de officiais… É possível supor que aqueles oficiais da obra da Igreja tivessem como ofícios, serem pedreiros, canteiros, carpinteiros, com seus serventes.

Os referidos pagamentos da obra da Igreja foram identificados, desde o período acima referido, e durante os anos de 1761, 1763, 1768 e 1769. Há falta de referências ao trabalho na obra da Igreja, por oficiais e serventes, em 1760, 1762 e desde 1764 até 1767. Nesse sentido, pode-se supor que houve interrupções na construção da Igreja naqueles períodos.

No Livro de Receita e Despesa consultado, as referências sobre os pagamentos a oficiais e serventes, não indicaram onde estes oficiais trabalharam na obra da Igreja. Partindo-se dessa lacuna informativa deve-se indagar sobre o que foi construído na Igreja de São José entre 1758-59, 1761, 1763  até 1768-69.

Há referências documentais que permitem supor que já estava construída uma Sacristia para a Igreja-nova (aberta ao culto em 1754) já em 1753, e também em 1756. Havendo já uma Sacristia era necessário ao programa construtivo da Irmandade edificar o seu Consistório. Pode-se supor que no período em datação (1758/1769) a Irmandade houvesse construído o Consistório, edificação, talvez, incluída na receita e despesa como obra da Igreja.

Como é conhecido, os Consistórios (salas de reuniões das mesas administrativas das Irmandades), eram locais privados e deveriam, também ser seguros. Eram, geralmente, construídos sobre as Sacristias, e acessíveis por escadaria(s) laterais, dando-lhes acesso, sem haver necessidade de transitar-se pelas Igrejas.

Quais foram as obras que a Irmandade de São José pôde continuar, e concluir, até 1778-1779?

Uma leitura do Livro de Receita e Despesa, daquela Irmandade, permite concluir que na década de 1770; alternaram-se períodos de interrupção nas obras da Igreja, com outros, quando se tentava retomá-las.

Sua cronologia pode-se, assim, ritmar: nos períodos de 1770-71, e desde 1774-75, durante 1776, e no princípio de 1777 não se identificaram despesas na compra de materiais de construção ou, no pagamento de trabalhadores (oficiais x serventes).

Na primeira metade dessa década, apenas em 1772-73, registraram-se despesas com aquisição de materiais para a obra da Igreja: cal, canoas de areia, vigas e estacas de madeira, pedras de alvenaria e de cantaria. Nesse período citam-se as despesas com o pagamentos dos trabalhadores: cavouqueiros: ajudantes de pedreiro que extraíam pedras (de alvenaria e de cantaria de pedreiras). Referindo-se também as despesas feitas com pagamento dos jornais de Officiais que trabalharão na obra, bem como a despesas com os Serventes. Nesse período, alugou-se uma casa para guarda do material que se adquiria. Há referência ao conserto de huma bomba para esgotar água, supondo-se a abertura e o ensecamento de escavação para assentamento de alicerces.

Por fim, só em 1777-78 e 1779 voltaram as referências contábeis sobre a aquisição de materiais para as obras, e o pagamento a ajudantes e a serventes. Assim, refere-se a despesa …com a compra de 300 tijolos quadrados / para ladrilho da Capela Mor… além da …compra de 200 telhas para retelhar / a Igreja, e as casas… Foram feitas obras de conservação com o caiador que caiou casas da Irmandade e a Capela-mor da Igreja.

Para a condução das obras a Irmandade necessitava de recursos financeiros que ela reunia da seguinte forma: esmolas de devotos (em dinheiro, materiais de construção ou serviços prestados), annuais, isto é, as anuidades dos Carpinteiros, Pedreiros, Marceneiros e Tanoeiros que compunham a Irmandade. Recebia, a Irmandade, rendas dos Juízes e Procuradores dos Ofícios, acima referidos. Também pelas Cartas de Exame que credenciavam novos Oficiais eram pagos custos, bem como das execuções e condenações nas infrações aos regulamentos corporativos e profissionais.

No sentido de aumentar o seu patrimônio e rendimentos financeiros, a Irmandade de São José havia construído duas moradas de Casas novas (c.1769-70-71) das quais, em 1772, principiava a receber alugueres.

Em conclusão, qual parte da Igreja de São José do Ribamar estava terminada em 1778, segundo a inscrição acima do arco da Capela-Mor?

Compreendendo a inscrição de 1778 na sua intencionalidade em documentar e datar, pode-se associá-la ao término das obras de construção da cabeceira da Nave da Igreja, espaço antecedente ao da sua Capela-Mor.

A cabeceira da Nave dessa Igreja foi composta em singular espaço poligonal (na forma aproximada de um trapézio). Nos ângulos colaterais da Capela-mor, elevaram-se alçados diagonais, em cujos maciços abriram-se duas Capelas. Por sua vez, seguindo a mesma modenatura do arco-cruzeiro, essas duas Capelas foram, também, compostas por ordem arquitetônica clássica (bases, pilastras, capitéis e arcos). Nessas duas Capelas, os vãos dos seus arcos estão abaixo do nível dos capitéis das pilastras do arco-cruzeiro da Capela-mor (mais largo e elevado), definindo-se, a importância litúrgica desta naquele espaço arquitetônico-religioso.

Sobre o arco da Capela-Mor, e os das duas Capelas colaterais, dispuseram-se composições semelhantes extraídas da gramática ornamental do Rococó. A composição sobre o arco da Capela-Mor (tem as datas 1752 / 1778), aquelas composições ornamentais das Capelas colaterais estão sobre os entablamentos acima dos seus arcos.

A composição espacial dessa cabeceira de nave, conclui-se, paralelamente, da mesma forma: observa-se a conhecida disposição de vãos onde uma porta está encimada por tribuna (balcão); traço característico dos alçados das igrejas tipo – salão das Irmandades no século XVIII.

3.2. A continuação e o término da construção de São José do Ribamar (1781-82 / 1798 / 1803-04)

 

A construção da Igreja de São José do Ribamar continuou na seqüência das décadas finais do século XVIII – 1780-90. As obras de edificação (e de integração de bens litúrgicos e artísticos) vão prosseguir além da década inicial do século XIX.

Nesse período, ocorreu o declínio do período colonial e o início do processo da Independência do Brasil: marcada por uma série de datas, como 1808 (abertura dos portos e a conseqüente suspensão do monopólio comercial português); a revolução pernambucana de 1817; a expulsão do governador da capitania de Pernambuco, General Luís do Rego Barreto, em 1821, e a proclamação da Independência pelo príncipe-regente D. Pedro de Alcântara, em São Paulo, 1822.

A leitura e o estudo temáticos de parte da documentação histórica produzida pela Irmandade de São José, evidenciou, um inevitável ritmo lento na construção da sua Igreja. Talvez não pudesse ter ocorrido de outra forma para aquela edificação: empreendida por Pedreiros, Carpinteiros, Marceneiros e Tanoeiros, auxiliados por doações e esmolas (trabalho nas obras, dinheiro e materiais de construção).

A Igreja de São José do Ribamar, tal como chegou até nós, ainda preserva na sua arquitetura, nos bens integrados e móveis, um exemplar nível e tipo arquitetônicos. Sua arquitetura (interiores e fachada) fini-seculares do setecentos, encerram um longo ciclo construtivo do eixo urbano Olinda-Recife.

Sobre as Irmandades e Devoções sediadas naquela Igreja de S. José, responsáveis, a partir de certa altura pelo seu processo construtivo, montaram-se quadros, a partir da documentação consultada; identificando-se elementos sócio-econômicos que permitam uma melhor compreensão da construção da Igreja (Ver quadros anexos).

Em concordância com o tópico anterior deste capítulo, ordenou-se a narrativa da evolução construtiva da Igreja de São José, cronologicamente. Nesse sentido, procurou-se identificar o que construiu-se para a conclusão da Igreja, nas décadas de 1780, 1790 e 1800.

Procurar estabelecer uma cronologia inicial para a construção da Igreja de São José do Ribamar, foi exercício fundamental não só para compreensão da sua arquitetura, mas, também, como auxílio para futuros restauros dos bens ali integrados. Essa cronologia servirá, ainda, para o estudo dos vários estilos artísticos ali representados: elementos do classicismo, do tardo-barroco, do rococó, e do ecletismo oitocentista (semi-popular). Períodos artísticos com suas formas estratificadas naquele monumento, ao longo de sua formação e configuração histórico-artística.

O que foi construído na Igreja de São José do Ribamar, pela sua Irmandade na década 1780?

Na edificação do programa construtivo daquela Igreja, estaria construída a cabeceira da nave (espaço antecedente à capela-mor); havendo na cabeceira duas capelas colaterais desde c.1778.

Para concluir-se o programa construtivo era necessário a unificação das três partes (já existentes ou, ainda, por construir) que formariam todo o corpo da Igreja: desde sua capela-mor (e sacristia anexa), passando-se para a imediata cabeceira da nave (com seu espaço de forma trapezoidal), avançar com a construção das paredes laterais do corpo da nave, até chegar-se ao coro, ladeado pelas bases para levantamento de futuras torres, integrando-se nessa seqüência construtiva-espacial, a sua conclusão, que era a fachada da Igreja, seu exterior para a paisagem urbana.

No triênio 1781-82-83 registrou-se a aquisição de materiais construtivos diversos, o pagamento de trabalhadores (formando uma hierarquia profissional), evidenciando-se a execução de obras na fachada da Igreja.

Entre 1781-82 a Tesouraria da Irmandade pagou as despesas da aquisição de vários materiais de construção para as obras da Igreja: canoas de areia, sacaduras de cal, telhas e tijolos, duzentos pregos caixaes, frechais (vigas de madeira), um pouco de pedra comprada ao Irmão Antonio da Rosa, além das despesas com o carreto transporte desses materiais em carros de bois(?) ou canoas.

As despesas com os trabalhadores na obra da Igreja crescem nesse período. Mas, havia, também, situações em que Irmãos pagavam suas anuidades devidas à Irmandade com seu próprio trabalho na obra da Igreja. Partindo-se dos serventes – negros – há vários registros sobre aqueles que trabalhavam na obra da Igreja ou na Pedreira, aos quais dava-se o sustento. Há o pagamento de jornais aos Pedreiros, bem como …fretes aos Jangadeiros que conduziram as Pedras / de Nazareth (…).

Nesse período, a contabilidade registrou a equipe que conduzia as obras da Igreja, formando pequena hierarquia de profissionais da construção. O Mestre de obra era Filipe de Mendonça, seguindo-se o Mestre-pedreiro Francisco Xavier, pagando-se, ainda, o trabalho a três Pedreiros: Luis Miguel, Manoel da Cunha e Luis Jerônimo da Paz.

Quais obras da Igreja foram referidas entre 1781 – 82?

Nesse período trabalhou-se na fachada da Igreja, onde referem-se os seguintes serviços:

Pellas despezas feitas com a Cantaria da obra das portas da Igreja…// 179$455 (…)

Por que paguei a três pretos que trabalharão com os officiaes que taparão as 4 portas…//$600 (…)

Por que dei a hum servente que trabalhou com / o official que retelhou a Igreja…// $110

Despeza com a porta principal com os officiais de carapinas. / Por que paguei aos Pretos, que conduzirão 8 taboas que deo de esmola Antonio Fagundes  $160

Por duzentos pregos Caixaes (?) para pregar dita / porta…  $480

Por que paguei ao Mestre Manoel Gomes do feitio / de fazer a porta / …  // 8$000 (…)

Nesse período (1781-82) um dos materiais de construção mais referidos foi a pedra. Pelas citações das despesas do Livro de Receita e Despesa a Irmandade, adquiria ou explorava, por serventes negros pedreiras em Nazaré (supondo-se, seja o povoado próximo ao Cabo de Santo Agostinho), ao sul do Recife. Após sua extração e cortes as pedras eram transportadas em jangadas para o Recife, sendo deixadas na praia. Dali eram levadas por serventes ao Telheiro do canteiro de obras da Igreja: local onde seriam trabalhadas pelos pedreiros-canteiros, segundo as necessidades da construção. Além do referido transporte de pedras de Nazaré, a Irmandade adquiriu, também, dois lotes de pedra ao Irmão Antonio da Rosa.

No ano contábil de 1782-83 a Irmandade referiu-se ao recebimento de vários materiais de construção dados como esmola para as obras de São José. Assim, o tesoureiro recebeu dos …herdeiros do defunto Antonio Fernandes 50$000 [cinqüenta mil réis], os quais por sua vez, passaram-se ao Cap. João Garcia para dar em cal do seu forno que já deo em duas sacaduras… Outras esmolas vieram como dúzias de tabuado, tijolos e aquelas pedras dadas pelo Escrivão Varella.

Continuam, no mesmo período, as despesas com pedras nas obras da Igreja, sem referência explícita do local do seu emprego na construção. Citam-se pagamentos feitos ao cavouqueiro de nome Pampulha pelo corte de pedras para as obras. Na obra, como vimos, havia o Telheiro, sobre o qual apontou-se o pagamento …que se deo ao Ir. Manoel Gomes de fazer o telheiro / para os officiaes trabalharem… $960.

Pode-se supor que neste período de 1782-83 e até 1784 trabalhava-se, talvez, na elevação da fachada da Igreja de São José; considerando-se, inclusive, que as portas principais daquela fachada foram referidas, anteriormente, em 1781-82.

No triênio 1784-85-86 os Juizes da Irmandade de São José decidiram-se, sucessivamente, sobre …o alevantamento das paredes / do corpo da Igreja e a[s] mais hobras que se seguirem/

Em Termo de 21 de setembrode 1784, determinaram-se o Juiz e mais Irmãos da Mesa (…) a continuarmos a hobra da Igreja e toda a obra cuanta for / necessária…

Após mais de um ano um Termo de 14 de novembro de 1785 refere-se à …fatura da obra que se há de fazer / no alevantamento da parede/. Neste Termo, o Juiz e Irmãos concordavam (e assinavam-se) para prosseguir-se com a dita obra a qual traria …todo benefiçio e aumento desta Santa caza de que continuaremos / (sic) Com a parede do Corpo da Igreja da parte do nascente… [lado leste].

No ano seguinte, Termo da mesa administrativa de 1º de novembro de 1786 refere-se ao

…que se manda fazer para se fazer a obra / da fatura da Igreja / Neste Termo o Irmãos Juiz da Irmandade Joaquim Pinheiro Vilar, e os irmãos da mesa, abaixo assinados … Mandarão / fazer este Termo para que se pegasse na obra da parede da parte direita / e que se gastasse tudo qto. se adquirisse de esmola e ainda de alguns / rendimentos para a fatura da mesma obra…

Acreditando-se na veracidade dos testemunhos históricos daqueles Termos citados (1784-85-86), pode-se supor, que as duas paredes (lados leste e oeste) do corpo da nave da Igreja de São José já estivessem concluídas em 1787.

Sobre as duas paredes que supõe-se construídas seguindo a decisão dos Termos, observe-se, que ambas receberam um tratamento utilitário simétrico, equilibrando-se os cheios e vazios. No térreo, há duas portas de cada lado, que comunicam a nave com seus corredores laterais (exteriores). Abriram-se os arcos para as duas capelas laterais (para receberem futuros altares/retábulos). Agora, o corpo da nave da Igreja tinha quatro capelas: estas inseridas nas duas paredes laterais e aquelas duas da cabeceira da nave, que já estariam concluídas desde 1778.

Na parte superior dessas paredes laterais colocaram-se, posteriormente, dois púlpitos. Ainda em 1781-81 a Igreja de São José não tinha púlpito próprio; quando havia necessidade de sua utilização nos sermões, vinha um púlpito, emprestado, do Hospício da Penha.

A construção das paredes laterais da Igreja unificou seu espaço arquitetônico. Concluía-se o interior, a nave da Igreja; assim, desde a capela-mor, a cabeceira e corpo da nave integrar-se-iam ao que já estivesse construído na fachada da Igreja (inconclusa em sua projeção vertical nesse período).

Sobre a continuação das obras de construção para o término da Igreja de São José do Ribamar, foi Pereira da Costa, através das Memórias Históricas de Fernandes Gama, quem transmitiu as ações que D. Thomaz José de Mello (1742 – 1805) pode fazer estando governador da Capitania de Pernambuco por aquela Igreja.

Antes de narrar uma cronologia possível para observar-se a conclusão (parcial) daquela Igreja, há interesse em extrair-se citações daquelas Memórias Históricas sobre Pernambuco (editadas em 1844), escritas por Fernandes Gama (1809 – 1853).

Esse cronista fez um relato das realizações da administração D. Thomaz José de Mello enquanto esteve governando Pernambuco (desde dezembro de 1787 até o mesmo mês em 1789). Para recolher recursos para suas obras pias esse governador criava tributos (sobre títulos), e multas, além do oferecimento de cargos honoríficos a homens de posses financeiras, …que por ellas offereciam esmolas para a construção das obras pias que intentara; e com o produto destas Patentes, e com algumas esmolas de homens verdadeiramente philanthropicos acabou os dous importantíssimos estabelecimentos, que ainda hoje duram. Referia-se, aqui, Fernandes Gama, à ampliação da já existente Casa dos Expostos (isto é, o recolhimento de órfãos, feita entre 1789-95), bem como ao Lazareto de Santo Amaro (que acolhia pessoas com lepra/hanseníase e filariose/”elefantíase”).

Prossegue, Fernandes Gama, sua enumeração das intervenções do governador D. Thomaz:

A Igreja de S. José dos Carpinteiros estava apenas / começada, e D. Thomas, que se mostrava devoto do Pai putativo [adotivo] de JESUS CHRISTO, quiz proteger esta construção; po- / rém as esmolas dos fiéis eram poucas e outros meios não / haviam. D. Thomaz lembrou-se, para remediar esta falta, / de um expediente, que, attendendo-se para a alta posição a / que o Cargo de General o elevava, não merecerá certamente / o titulo de innocente. As embarcações que vinham a este / Porto, perdiam as âncoras no fundo, como ainda hoje acon- / tece, e muitas vezes por falta de apparelhos próprios, e outras / para não se demorarem, deixavam esses ferros, e retiravam- / se. D. Thomaz, aproveitando essa occurrencia, mandou ros- / segar [arrastar com aparelho pelo fundo d’água] pelo Patrão da Barra os ferros deixados no fundo, que / seus donos podiam vir buscar; e, tomando-os por per / didos, mandou-os depositar na praia de S. José. Depois, convi- / dando os Negociantes d’esta Praça, e mui bem póde ser os / próprios donos das âncoras, ordenou que fossem estas arre- / matadas, e que se entregassem a quem mais desse, assistindo / o próprio D. Thomaz a arrematação: e, como algumas vezes / acontece que motivos reprovados vêm a ter resultados pios, / a adulação de alguns Negociantes levou os ferros a alto / preço: d’esta sorte a obra da Igreja de S. José, até aquelle / tempo tão falta de recursos, logo teve fundos para continuar / com rapidez. Com este expediente, com as esmolas de muitos / operários que trabalharam de graça por pura devoção, e / também com as esmolas que o mesmo D. Thomaz deu de / sua bolça, pôde aquelle General levar a obra da Igreja ao es / tado em que a deixou, e ainda está.

Na pesquisa histórico-artística sobre a Irmandade de São José e sua Igreja, o extravio do seu Livro de Receita e Despesa (1784 – 1857) impediu o conhecimento do referido mecenato X intervenção exercidos pelo então governador da capitania D. Thomaz José de Mello. Nesse livro contábil da Irmandade estariam registradas as Receitas provenientes dos leilões feitos na praia de São José, daquelas âncoras resgatadas do fundo do porto do Recife. É possível, também, que, naquela Receita e Despesa, entrassem as referidas esmolas dadas pelo governador para as obras da Igreja, ali estariam, também, as Despesas com a continuidade da sua construção.

No entanto, havendo-se preservado da mesma Irmandade um dos seus Livros de Termos (desde c.1777 até 1854), é possível, traçar-se breve cronologia sobre a conclusão da Igreja de São José. Nesse sentido, compreende-se, que, houve uma conclusão parcial das obras da Igreja: desde finais do século XVIII até princípios do século XIX.

O que disseram os Termos da Irmandade de São José, contemporâneos do governo de D. Thomaz (1787 – 1798), sobre obras naquela Igreja?

Considerando-se que há escasso conhecimento histórico sobre as obras de conclusão da Igreja de São José do Ribamar, deve-se estabelecer uma cronologia possível, extraída daqueles Termos.

Assim em 1789, os Juizes dos Ofícios e Irmãos da Mesa conjunta …do Patriarca São Joze do Ribamar…, fizeram Termo onde …Convierão todos pegarmos na obra do Nosso Santo patriarca…

Seria possível, supor-se, que, na decisão tomada pela Irmandade sobre …se pegar / na obra da sua Igreja… feita aos sete de junho de 1789, estivesse subentendido concluir-se a fachada da Igreja?

Na seqüência dos Termos daquele Livro não encontraram-se mais referências às obras, desde o 2º semestre de 1789 e durante todo o ano de 1790. Em 1791, há um Termo (6 de março) cuja titulação refere-se a …Continuarmos Com / a obra da nossa Igreja. Decidira, então, a Mesa administrativa da Irmandade que:

…Se Continuasse Com a obra dela principalmente o Arco Toral e Fe / xarmos o frontezpisio (sic) Sendo Se nos dê as esmolas que se axão pro / metidas para ajuda da dª obra…

Ainda no mesmo semestre de 1791 há, outro Termo que refere-se ao Frontispício da Igreja. Neste Termo, datado em 9 de maio de 1791, a Mesa administrativa decidira:

(…) nós deputados da Meza / Juizes e Escrivans Abrindo o Cofre e Tiremos (sic) dro. [dinheiro] Sete mil e Seis Sentos e oitenta [réis] pa. Pagamento de Sete pedras pa. o frontespicio / botados [pelo] Caboqueiro João Pedro do qual se [houve] Recibo (…).

Em fins de 1791, outro Termo (datado de 10 de outubro) referiu-se à (execução da futura?) obra do Frontispício, ou Fachada, da Igreja de São José do Ribamar. Nesse Termo, citava-se o recebimento de esmolas deixadas em testamentos por vários defuntos para a Irmandade. O Irmão Procurador-geral, Antonio Fernandes Soares, declara sobre aquelas esmolas:

(…) que tanto [haviam] deixado os ditos testadores de esmolla para o nosso Sto. Patri- / arca [São José] Cujo dinheiro ficou em poder do nosso Irmão Tezo- (sic) / reiro que [assim o determinamos] para as despezas da Fa- / tura da obra do Fronte espicio da nossa Igreja e o mais / que nescessario for pa. bemneficio da mesma (…)

Durante 1792-93 não identificou-se no Livro de Termos referências às obras do Frontispício da Igreja. Poderia ter sido concluído neste período contábil? Em 1793, Termo de 20 de abril, declara o …Recebimento de huma / esmolla que veio da Parnahiba [Piauí] que mandou Domingos / Dias pa. a mesma Irmandade do Sr. S. José de Beyra / Mar… A esmola de cincoenta mil réis fora depositada no cofre, destinando-se ao mesmo Santo [São José] para as obras da Igreja…

No período 1793-94 Termos da administração da(s) Irmandade(s)(?) referem-se à execução de obras de acabamento do espaço interno da Igreja. Assim, o Termo de 24 de fevereiro de 1793 diz que: 

(…) Mezas e todos juntos [nos determinamos?] que [fizéssemos?] o cordam [degrau/moldura de cantaria para alinhamento de], …do cruzeiro e acabar o pedestal / do arco da Capela Mor como que puder se puder fazer/ (…).

Por Termo de 7 de abril de 1794, decidira a Mesa …fazer a obra do ladrilho da Igreja. Havia a concordância em que …se fizesse a obra do ladrilho da Igreja… bem como …todas as obras mais necessárias que forem… para …a dita Igreja…

Na Igreja de São José do Ribamar, em 1796, havia ainda, várias obras de sua construção por concluir. Um Termo de 14 de agosto de 1796 identifica-se como aquele …Em que Se há Consultado / fazersse a Sachristia da nossa Igreja/. No Termo diz-se que os Irmãos-Juizes e Escrivães [dos Ofícios / Irmandades] e Deputados da mesa administrativa decidiram, 

…fazersse a Sachristia da nossa Igreja visto estar, a Irmandade / nos termos de a fazer em Razão de hua Esmolla q. deixou Joze / Ferreira e o seu testamenteiro Estar prompto para embol / çar a Irmandade Concorrendo Com os pagamentos e dispezas (sic) / da mencionada obra the o Compito (sic) [isto é, o cálculo, limite] de quatro centos mil Reis/(…)

Está em correspondência com as obras de São José do Ribamar, no biênio 1796-97, uma incisiva Portaria do Governador D. Thomaz, dirigida àquela Irmandade, do seu empenho:

Ordeno à mesa da Irmandade de S. José da vila de Santo Antônio do Recife que eleja para juizes dos quatro ofícios da referida irmandade as pessoas declaradas na relação inclusa, assinada pelo oficial maior desta Secretaria, para servirem no ano próximo de 1797, por ser assim conveniente a mesma irmandade e para se cuidar melhor na fatura da igreja do mesmo Santo; e de ficar entendida a mesma mesa me remeterá a eleição assinada pelos mesmos mesários – Recife, 14 de dezembro de 1796 – D. Tomaz José de Melo. [Grifo nosso]

Estaria a Sacristia que pretendia-se construir, segundo o Termo de 1796, em obras durante 1797?

Uma resposta a essa questão só poderia ser dada a partir da consulta ao referido Livro de Receita e Despesa, de 1784 a 1857; extraviado, ou, subtraído. Entretanto, essa pesquisa histórico-artística poderá fazer suposições, para hipóteses (futuras) de estudo, apoiando-se no conteúdo dos Termos da Irmandade.

No sentido dessa compreensão, lê-se em Termo de 27 de fevereiro de 1797 que o Tesoureiro Francisco Carneiro do Rosário recebeu a …quantia de quatro centos e dezesseis mil réis de legados…, soma dos testamentos de pessoas então falecidas. Nos Testamentos, as esmolas já estavam destinadas …para obras da mesma Igreja [de São José]. Numa conclusão (provisória) seria provável que destinando-se esmolas financeiras para obras da mesma Igreja, esta estivesse, ainda, com sua construção em andamento.

Em fins de 1797, em Termo de 22 de outubro desse mesmo ano, o Tesoureiro Francisco Carneiro do Rosário recebia de autoridades da Irmandade a …quantia de quatro mil, cento e sessenta réis… para se pagar os Fretes de Cal que Se Com / duzio pa. a obra da mesma Igreja…

Partindo-se da referência documental da necessidade ou existência de obras na Igreja de São José, poderia-se associá-las às da construção da Sacristia, alegada no Termo de 1796. Nesse sentido, aquela cal cujo transporte pagava-se em 1797, talvez fosse ainda destinada ao levantamento das paredes da mesma Sacristia ou para argamassa de sua alvenaria.

A necessidade de …fazer-se a Sachristia da nossa Igreja… referida naquele Termo de agosto de 1796, não identificou a qual Irmandade ela serviria, como espaço social e litúrgico, nem de qual lado da Capela-Mor da Igreja de São José ela poderia ser construída.

Sobre esta questão do programa construtivo da Igreja de São José do Ribamar, deve-se explicar o seguinte.

Desde o início da pesquisa histórico-artística sobre aquela Igreja identificou-se que, uma Sacristia fora construída durante o mesmo período da Capela-Mor (obras, 1752-54). A documentação consultada sobre aquele período, não identificou, em qual lado da Capela-Mor fora construída a Sacristia anexa. Observando-se o espaço (a espessura de suas paredes e a regularidade na disposição de suas aberturas), além das disposições de Nicho/Retábulo e Lavatório, da Sacristia à direita da Capela-Mor, manteve-se a suposição de que esta fosse a primitiva Sacristia da futura Igreja de São José do Ribamar. Considerou-se, aqui, também, que esta Sacristia na planta/espaço da Igreja, está à direita do observador; estando o mesmo defronte para sua Capela-Mor, e de costas para o Coro da Igreja; ou seja, a primitiva Sacristia fora construída do lado oeste da Capela-Mor.

Considerando-se as observações acima referidas, supõe-se que uma outra Sacristia estaria em obras, segundo os Termos de 1796-97. Esta nova Sacristia seria aquela existente do lado esquerdo (leste) da Capela-Mor da Igreja.

A propósito dessa Sacristia, que está ao lado esquerdo de quem entra na Igreja, deve ser lembrada a existência, em São José do Ribamar, da Irmandade do Bom Jesus dos Aflictos. Observou-se, que, desde 1782-83 já havia um Altar do Bom Jesus, pertencente aos Irmãos daquela Irmandade , ali sediada, desde 1784, e que talvez fosse a segunda em importância hierárquica após a do Padroeiro S. José. Nesse sentido, é provável que a construção de uma outra Sacristia fosse para atender às funções litúrgico-administrativas da Irmandade do Bom Jesus dos Aflictos.

Em 25 de novembro de 1798 – nos últimos meses do governo de D. Thomaz José de Mello – referido como benfeitor da conclusão da Igreja de São José – no Consistório dessa Irmandade fez-se um Termo em benefício de José de Oliveira Barbosa. Fazia-se o documento …Em remmuneração dos riscos [isto é, dos desenhos, projetos ou plantas] que fes (sic) para esta Igreja./

Nesse Termo diz-se que,

…Aos 25 de novembro de 1798 estando em meza Congregada os Juizes e Escrivans dos Coatro / ofisios na Igreja do Patriarca São Jozé Concordamos em Levarmos em / Conta os alugueis da Caza da mesma Irmandade em q. mora o dº Jozé de Olivra. Barboza todos / os mezes vensidos athe 25 de dezbro. De 98 Cujos Alugueis damos por resebidos em sasti (sic) / fasão dos riscos q. o dº Tirou pa. a Igreja e de toda obra Como Seja da talha da Capela / mor e frontespisio porta prinsipal (sic) e púlpito e o mais q. se percizava (sic) [isto é, precisava] (…) [Grifos nossos]

O que se poderia compreender, concluir, sobre o término das obras da Igreja de São José do Ribamar, a partir do Termo sobre José de Oliveira Barbosa?

Como resposta provisória a essa pergunta, vão considerações para estudos futuros desse problema histórico-artístico:

  1. Declarou-se no Termo que José de Oliveira Barbosa morava em casa alugada a dita Irmandade (desde quando?), cujos aluguéis venceriam até 25 de dezembro de 1798. Nesta situação, a Irmandade ia beneficiá-lo: Em remmuneração dos riscos [desenhos] que fez para esta Igreja./
  2. No Termo diz o escrivão da Irmandade que se concordava em levar em conta os aluguéis da casa da mesma Irmandade em que mora o dito José de Oliveira Barbosa. Assim …todos os meses vencidos [desde quando?] até 25 de dezembro de 1798 eram dados como recebidos. Por quê trocavam-se aluguéis por desenhos para a obra da Igreja? Havia da parte da Irmandade satisfação [pelos] riscos que o dito tirou para a Igreja e de toda obra como seja a talha da capela-mor e frontispício, porta principal e púlpito e o mais que se precisava…

Observando-se, na redação do Termo, o uso de tempos verbais no passado, para ação de desenhar executada por José de Oliveira Barbosa, como foram: riscos que fez, riscos que o dito tirou, e o mais que se precizava, poder-se-ia concluir que as obras desenhadas também estavam concluídas?

  1. Para saber-se, ter-se o conhecimento da efetiva realização daquelas obras desenhadas por José de Oliveira Barbosa, elas teriam que ser localizadas no respectivo Livro de Receita e Despesa, fonte contemporânea àquele Livro de Termos, onde se registraram os seus desenhos. Devendo-se investigar se o que fora projetado (desenhos), foi executado, como, onde, quando, e a quem fora paga a execução, montagem, daquelas obras arquitetônico-artísticas.

Quanto ao Livro de Receita e Despesa dessa época (subtraído ou extraviado) a leitura para observação das despesas com obras artísticas deveria retroceder até 1794. Foi neste ano que a Irmandade pretendeu ladrilhar (a tijolo) sua Igreja: obra de sentido construtivo antecedente à integração dos seus altares e retábulos de talha dourada. Em uma situação ideal do resgate daquele Livro (consultado no IPHAN-Recife entre 1975-85 por José Antônio Gonsalves de Mello), dever-se-ia fazer a leitura deste livro desde 1794 até 1798 – ano em que se declarou que os desenhos das obras estavam feitos. Por prudência na investigação documental a leitura contábil deve-se estender até 1803-04. São dessa época do princípio do século XIX, as primeiras referências para fazer-se o forro (em madeira) sobre a nave da Igreja de São José.

A partir da leitura-final dos Termos, conclui-se que a fachada (frontispício e frontão) da Igreja de São José do Ribamar teve, ao que parece, uma conclusão tardia. Esse término poderia ser periodizado, para estudo, desde 1798 e até 1803-1804.

Fonte
Acervo IPHAN

Pesquisado emBiblioteca do IPHAN de Pernambuco

Galeria de Imagens